segunda-feira, 30 de abril de 2012

12 horas nadando?




Pois é... Há aproximadamente 3 semanas, o Harry recebe uma mensagem do Igor, perguntando se ele pode estar numa certa sexta-feira, no clube de Sāo Bernardo do Campo, para um treino especial.
Neste treino, a proposta seria nadar 12 horas seguidas, fazendo intervalos de no máximo 30 segundos, a cada 20 ou 30 minutos, para alimentaçāo.
Costumeiramente, o técnico tem mandado mensagens comentando os treinos, cobrando desempenho ou mesmo especificando modificações nas planilhas. Mas dessa vez, a mensagem foi curta e objetiva. Ok, respondeu o Harry, estarei lá.
Depois de responder, começou a pensar realmente o que seria nadar 12 horas seguidas, numa piscina de 25 metros. Trocaram várias mensagens depois, onde o atleta tentou compreender melhor o que aquele treino representaria. Conversou também com os outros dois nadadores que farāo a travessia junto com ele e que também foram convocados para essa maratona. Um deles, que já tentou a travessia em 2011, chegou a fazer esse treino no ano passado e acalmou o Harry dizendo que sim, era possível aguentar o esforço da nataçāo e depois partir para uma boa balada! Exagero, pensei eu quando soube... Só de imaginar 12 horas de nataçāo, acredito que precisaria de umas 72, para retomar as forças!
Ansiedade, curiosidade e preocupaçāo tomaram conta de sua mente. As horas de sono foram abaladas e a ideia de um treino dessa natureza deixaram o Harry bastante apreensivo.
As respostas do Igor ao Harry foram seguidas de uma relaçāo com os horários e especificando o que comer. As paradas seriam a cada 20 ou 30 minutos, de no máximo 30 segundos. Os alimentos indicados eram desde suplementos, bedidas (oba, coca-cola estava liberada!), até Aspirina efervecente, que deveria ser ingerida conforme instruções.
No dia marcado, às 19:50 hs, já com todo o kit alimentaçāo a postos, o Igor deu as últimas orientações, como por exemplo que deveriam nadar somente crawl e que as paradas para suplementação não deveriam ultrapassar 30 segundos. Colocou um grande cronômetro do lado da piscina e antes de dar a largada, nos comunicou que iria pra casa dormir e que voltaria no outro dia, sábado, por volta das 7 horas para acompanhar o final.
Na primeira virada, outra surpresa: o Igor desligou todas as luzes da piscina e eles nadaram no escuro...
Contou-me o Harry: "Depois de uns 10 minutos comecei a me acostumar com aquele luz (ou falta de luz) e já enxergava o fundo da piscina e as marcações dela. Nadamos os primeiros 30 minutos e na parada, claro, fui direto olhar o relógio e o que poderia comer. Pela relação, nas primeiras horas só poderíamos tomar carboidrato. E assim, foram passando as horas, ou melhor passando os diversos 30 minutos, e depois os intervalos de 20 minutos. A cada parada, uma olhada rápida no relógio. Na parada da meia noite, já havíamos nadado 4 horas, ou seja, 1/3 de todo o treino. Faltavam ainda 8 horas, mas não poderíamos estar pensando assim, portanto SÓ faltavam 8 horas."
Passadas 6 horas confessou que estava pensando em parar, preocupado com o cansaço. Na parada conversou com os dois companheiros sobre sua preocupação e possível desistência. Foi então que eles deram um puxão de orelhas, no Harry! " O Igor falou para nadar 12 horas e não acelerar ou nadar contra o tempo. Diminua a velocidade, você está nadando muito rápido!", disse um deles.
Nesse momento, diminuiu bem meu ritmo e voltou a nadar tranquilo. Mas a preocupação com a velocidade, na verdade não se referia ao treino propriamente dito, e sim com a travessia, porque com essa velocidade imaginou que não passaria por possíveis correntezas do canal. Puro devaneio. Ele estava delirando!
No próximo post, contarei como foi o resto da noite, onde tantos pensamentos acompanharam as braçadas do Harry.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Entendendo melhor a solidão



Já faz algum tempo que não atualizamos o blog. Fato que poderia ser justificado pela agenda sempre agitada do Secretário de Turismo de Ilhabela ou talvez pelos inúmeros treinos e competições que o atleta Harry tem tido ao longo dos últimos meses.
Mas conversando com o Harry, entendi que alguns processos têm suas particularidades e que mesmo que inconscientemente, fizeram com que ele se recolhesse um pouco mais.
Nas últimas semanas, participou de alguns treinos peculiares (falaremos mais deles em breve) e que de alguma forma, o levararam a compreender o que se passa na sua camada mais profunda.
Nadar sempre é um ato solitário. Dentro da água não se conversa nem tampouco se ouve claramente o que acontece fora da piscina. Apenas os pensamentos acompanham o nadador.
Nem mesmo os estímulos de luz são claramente perceptíveis. Isso leva o atleta a ficar obrigatoriamente voltado para si mesmo.
Recentemente, o Harry me contou a estranha sensação que teve ao se dar conta de que na travessia, estará acompanhado de um barco de apoio com marinheiros, médico e do Igor (que será o seu guia na travessia). Mesmo estando o tempo todo cercado, quem mais estará com ele serão seus pensamentos e emoções.
Coincidência ou não, foi aí que o Harry começou a me alimentar de novas histórias.
Talvez a percepção da dimensão de sua “viagem interna” fez com que ele voltasse a tona e quisesse dividir o que tem sentido com mais pessoas.
E assim, estamos de volta!
Retomamos o blog para que os momentos de solidão fiquem somente debaixo d’água.
Boas-vindas, Harry!