terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tem paulista em mar carioca

Ok, esta é uma foto ilustrativa, mas talvez seja assim que o
Harry tenha visto o mar da Barra da Tijuca, naquele dia

Na semana passada, o secretário de Turismo da Ilhabela foi à ABAV (feira de turismo) no Rio de Janeiro. Opa! Grande oportunidade de aliar trabalho aos treinos no mar. O Hotel em que se hospedou ficava em frente à praia da Barra da Tijuca e pelo horário da feira, o Harry poderia treinar cedo, antes dos compromissos de trabalho.
No primeiro dia, lá foi ele atravessar a rua, munido de seu arsenal esportivo, super animado com o treino que faria. Apesar de ter crescido em agitadas águas do Guarujá (litoral paulista) e ter convivido alguns anos com as ondas não menos agitadas do litoral israelense, a primeira impressão ao encarar o mar, naquela manhã foi: Hum... acho que terei problemas! Lá na Ilhabela o mar é tão calminho...
O treino prescrito pelo Igor era de pelo menos 1 hora no mar e mais 40 minutos com o tensor, na piscina de 7 metros do hotel (aquela moleza de piscina semi-olímpica parece que não será padrão). E agora? O Harry não tinha nem ideia de por onde entrar num mar revoltado como aquele. É... parece que Netuno estava nervoso naquela semana.
Depois de muito observar o cenário, o bravo nadador avistou um grupo de surfistas na água. Nada melhor do que "colar" em quem está acostumado. Os surfistas nem estavam tão distantes da praia. Passada a arrebentação, o Harry ficou mais confiante, pois para ele, essa parte seria muito mais difícil do que realmente foi.
A "apresentação" não poderia ser mais direta: "oi pessoal, tem paulista no mar, então, por favor, de vez em quando olhem pra mim, porque estarei nadando aqui na próxima hora"!
Alguns acharam graça, outros, depois de entenderem a abordagem como um pedido de permissão para invadir o terreno alheio, se mostraram amigáveis. Esse primeiro contato foi importante para quem tinha intenção de voltar nos próximos dias.
Nos dias que se sucederam, o intrépido nadador continuou com treinos na praia. E tudo bem. Mas no último dia, ao chegar na praia, onde estavam os colegas surfistas? Não tinha ninguém... Isso não deve ser lá boa coisa, pensou ele.
O Harry percebeu que o mar não estava nem para peixe, quanto mais para humanos. As ondas arrebentavam de tal forma que facilmente levantam uma cortina d’água de 20 metros! Naquele momento, se deu conta de que os únicos esportistas do pedaço estavam praticado atividades... terrestres!
Para não dizer que era exagero, na orla toda deveriam ter no máximo 10 surfistas.
É, Harry, acho que hoje o problema parece mais sério... a solução foi conversar com um grupo de salva-vidas e bombeiros, que estavam em prontidão, num dos postos de bombeiros da praia. O Harry se aproximou, timidamente e pediu para que eles, na medida do possível, dessem uma checada de vez em quando para garantir que ele estava bem. Muito sem graça, ainda afirmou que não precisavam se preocupar, era só uma medida cautelar, mas que seria muito benvinda uma olhada esporádica.
Acompanhe a resposta do comandante: "Meu filho, é o seguinte: o mar esta muito bravo hoje, muita correnteza e água muito fria. Não aconselho você a nadar, e olhando para a minha sacola de plastico, disse: pegue o seu tensor e vá para a piscina do hotel.....vai ser melhor... "
Isso sim foi um banho de água fria!
"Eu não estava acreditando. Só via boicotada a minha chance de dar umas braçadas num mar mais agitado. Aí tomei coragem e comecei a ver por onde seria melhor entrar. Eles falavam comigo e não se conformavam, além de me aconselhar a não entrar, pois com aquela correnteza eu iria entrar e parar a pelo menos a 1 km dali. Isso sem esquecer que a água estava muito fria", Contou o teimo.., ops, destemido nadador.
Nesse momento, o Harry achou necessário abrir o jogo. Contou do porquê dele estar ali, a questão da temperatura da água ser especialmente providencial e deu detahes do projeto do Canal da Mancha.
Foi então que viraram os melhores amigos. Nada como um bom papo para se aceitarem diferenças! Depois de muitas perguntas para aplacar a curiosidade, os bombeiros continuavam desacreditando da insistência desse treino, justo naquelas condições. Mas, já amolecidos (ou conformados), passaram a orientar o Harry de qual área era melhor para ele entrar e quais os cuidados que ele deveria especialmente ter. Depois de mais uns 10 minutos de precisas instruções, era hora de encarar a arrebentação. Palavras finais dos bombeiros: "se for difícil voltar, não hesite em nos chamar e nada de fazer loucuras, hein?"
"Hein" digo eu! Se não era loucura o que ele tava fazendo até agora, o que seria então?
Deixo para o Harry descrever os momentos seguintes:
"La fui eu, e logo que coloquei minhas canelas na água, senti um frio que há tempos não sentia. Muito frio, mas muito frio mesmo, não me lembrava de ter nadado numa água tão fria. Comecei então a tentar passar todas as ondas e chegar ao outro lado da arrebentação. Entra onda, sai onda e dá-lhe mergulho; água fria e de novo, altas ondas. Eu mergulhando, levantando e respirando. Já tinha engolido um pouco de água, mas o pior foi ver que depois de tanto exercício, praticamente não saía do lugar. Por conta do orgulho, ia tentando passar as ondas e ir até onde a arrebentação não existisse mais. Depois de mais ou menos 30 minutos, consegui passar a arrebentação, mas estava totalmente sem forças. E o orgulho dizendo: respira, para um pouco e continua!
Passei a arrebentação e praticamente não tinha forças. Resolvi nadar um pouco e parar mais à frente, mas quando olhei aonde estava, não acreditei: depois desse tempo todo tentando passar a arrebentação, estava muito longe dos bombeiros, do meu hotel...
Aos poucos fui percebendo que minhas forças estavam voltando e que seria quase impossível chegar aonde eles estavam. Nadei muito, sem parar, usando como referência duas ilhotas na direção do meu hotel. Com muito custo consegui chegar no meio do caminho, mas totalmente sem forças. Foi quando depois de quase uma hora na água, resolvi parar e voltar para praia. E a praia estava longe...
Mas eu consegui. Fui andando ao encontro dos bombeiros salva-vidas. Tinha prometido que não daria dor de cabeça à eles, e eles estavam todos de pé, me procurando. Não acreditaram que era eu quem via andando na praia.....Respiraram aliviados! Quando cheguei lá, tive que dar razão a eles e a tudo que haviam comentado. Conversamos mais um pouco e voltei ao hotel para trocar de roupa e trabalhar.

Aprender a respeitar o mar foi muito importante embora o "método" de aprendizagem foi um tanto dramático!
Confesso que transcrevi as palavras do próprio Harry, porque mesmo sentada no meu computador, longe de qualquer onda, só de ler, fiquei sem fôlego!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Em águas santas


Treinando na piscina do kibutz
No mês de setembro, comemorou-se o ano novo judaico. Pegando carona nesta data festiva, o Harry foi matar as saudades da família que mora em Israel.
Obviamente que uma das primeira preocupações dele foi: onde eu vou nadar neste período? Indo para o quarto mês de treinamento, esta viagem não aconteceria sem que uma piscina estivesse disponível e garantida. Para a sorte do Harry, a família dele mora num kibutz (nota explicativa: kibutz é uma espécie de comunidade agrícola, onde as casas compartilham de áreas comuns. Hoje em dia, poderia ser comparado aos condomínios residenciais, como os de algumas cidades brasileiras, só que com "cara" de fazenda).
Em geral, nas áreas comuns há pelo menos uma piscina. Especificamente nesse kibutz uma das piscinas é semi-olímpica. Que sorte, hein, Harry! Mas... sempre tem um mas, os horários em que dsiponibilizaram para ele treinar eram muito ruins. Depois de um pedido especial, recebeu autorização para que durante a sua estadia, pudesse treinar quando fosse mais conveniente.
Por falar em conveniência, o fato da piscina ficar a 300 metros da casa da mãe dele não poderia ser mais conveniente! Segundo ele: "saía de casa só com a sunga, a prancha, a boia, o papel com treino, o suplemento, o oculos e a touca, (básico, não!) e isso depois de ter tomado um belo café da manhã com minha mãe. Foi simplemente maravilhoso! Me senti um atleta de ponta, em preparação para a Olimpíada..."
Depois do treino, hora do descanso, afinal, ninguém é de ferro!
À tarde, alternava caminhadas com mais um pouquinho de piscina.
O período de treinamento no kibutz foi especialmente bom. Durante 9 dias, o Harry experimentou o que vive um atleta profissional, onde seu foco é unicamente o treinamento. Foram treinos intensos, com concentração absoluta e que consequentemente tiveram resultados mais positivos. Aliar momentos de esforço com descanso, num equilíbrio adequado, fez toda a diferença.
Uma das partes do treinamento é contar as braçadas. A contagem dá a informação da quantidade de força usada na travessia entre uma borda e outra. O ideal é fazer entre 12 e 14 braçadas numa piscina de 25 metros (semi-olímpica). No momento, a marca está entre 16 e 18 e isso direciona o nadador para dosar melhor a sua força.
Além de dispor de uma boa piscina a poucos metros de casa, ter tempo de esforço e descanso balanceados e muitos mimos de mãe, águas da terra santa deram mais entusiasmo a esta etapa do processo de preparação.
Ok, Harry, você aliou o Buda da ioga com o Moisés das águas santas e injetou mais ânimo ao projeto!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Será que Freud explica?



No último post contei sobre as aventuras do Harry no mundo maravilhoso e equilibrado da ioga.
O que eu não tinha contado ainda (mas agora vou ter que contar) é que, por alguma razão ainda desconhecida, quase todas as vezes que o Harry vai contar para alguém que começou aulas de ioga, ao invés de ioga, acaba falando ballet. Entre os amigos, ok, já virou piada, mas quando o secretário de Turismo de Ilhabela, anuncia no gabinete, com incrível entusiasmo, que finalmente começou aulas de ballet, pode soar estranho...
A pergunta que não quer calar: qual a livre associação que a mente dele faz entre uma atividade e outra? Sem que haja nenhum tipo de preconceito, que fique bem claro, por que esta confusão? Vamos lá Harry, conte se logo depois da travessia você vai tentar também uma audição no Royal Ballet de Londres.
Se não for essa a razão, só me resta dizer: vai que é tua, Sigmund!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Namastê



Certa vez ouvi uma frase que resume bem um dos princípios da filosofia budista: "No mud, no lotus". Numa tradução livre para o português, seria como: "sem lama não há flor-de-lótus". Pelo que entendi, a flor-de-lótus só nasce em terreno pantanoso. A metáfora se refere ao fato de que na vida precisamos encarar nossas dificuldades se quisermos obter algum conhecimento. A imagem de uma flor nascendo da lama, me dá a sensação de que recebemos uma recompensa por mergulharmos em nossas próprias dificuldades.
E o que isso tem a ver com o Harry? Pelo jeito tudo!
Como ele mesmo se define como uma pessoa dispersa, a sugestão da prática de ioga pode ser um santo recurso para por foco na sua prórpia vida.
Depois daquele treino + conversa (pesada, aliás) com o Igor, a ideia de praticar ioga ganhou mais simpatia.
E como foi a primeira aula? Difícil... ou como diria o Harry: "o inicio foi até engraçado, mas muito muito difícil, falta de equilíbrio total.....desconcentração...mas é pra isso mesmo que fui fazer ioga, e apesar de dificil, eu gostei, embora ache que vai demorar muito entrar em sintonia. Alguns exercicios são muito complicados..."
Voltou para casa feliz e animado para a próxima aula. E para sua surpresa, a segunda aula foi muito mais difícil! O fato da professora ser profissionalmente zen, ajudou muito, afinal, ninguém espera nada menos de uma professora de ioga, do que muita paciência.
Saber das dificuldades de se concentrar não resolve todos os problemas. A terceira aula foi 1% melhor, mas estava longe de ser um encontro entre o Harry e a tal da sintonia!
Nesse estágio, apareceram algumas viagens o que mandou o Harry para um lado do mundo, e a ioga + sintonia para outro. Resumo da ópera: parece que "alguém" desistiu da ioga...
E como o destino não está mesmo nas nossas mãos, o Harry encontrou a professora de ioga na rua! Apesar do constrangimento, das desculpas, das explicações, não teve jeito: resolveu retomar as aulas. E agora com um plano B: quando puder, aulas em grupo; se viajar, vai repor individualmente as aulas em outras datas. Ter momentos do dia onde não se faz NADA parece que só vai existir na vida do nadador depois da travessia.
É isso aí, Harry, como disse o monge budista Thich Nhat Hanh: no mud, no lotus.


Como será que da lama nasce
flor tão bonita como a flor-de-lótus?

 

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Retomando o fio da meada



Acho que uma explicação sobre esse longo intervalo se faz necessária.
No último mês, o Harry esteve envolvido com tantas atividades diferentes, que algumas coisas naturalmente tiveram que ser sacrificadas.
Uma vez que o conteúdo do blog é informalmente enviado à mim por ele e, só então escrevo os posts, quando os relatos escasseam, os posts consequentemente também ficam pouco frequentes.
Mas... é hora de retomar. Sei que teremos ainda muitas histórias interessantes sobre esse projeto incomum.
Eu e o Harry vamos nos comprometer a alimentar o blog com a frequência necessária para que nenhum fato curioso fique sem registro.
Por esta razão, nada de muito papo.Vamos já para o próximo post!