sexta-feira, 25 de maio de 2012

Palavra de ordem: foco



Há menos de um mês da travessia, os pensamentos conseguem tomar conta do Harry mais rápido que qualquer braçada que ele possa dar.
Nesta fase, os treinos se alternam em treinos mais longos e mais curtos. Mas não se iludam: os mais curtos estão longe de serem realmente curtos! A média de distância por treino é de 5 a 6 km.
No dia 28/5, terá início mais uma semana de “treinos do inferno”! As instruções já estão passadas: pela manhã, nadar 7 km. À noite, mais 6 km. Simples assim.
Se para um atleta profissional já é difícil, que diria para o Secretário de Turismo...
Só que pelo que eu entendi, conciliar todas as atividades é que transforma realmente a semana em um inferno.
Desde outubro, o Harry optou pelos treinos diurnos, mas com treinos dobrados, vai ter que sobrar um tempinho extra após o trabalho também. Isso quando não tiver que trocar os horários e só treinar à noite.
Foi o que aconteceu na semana passada.
Descrevendo o cenário nas palavras do Harry: “Estava frio, chovendo e ventando. Ninguém foi treinar. Não fosse pela presença da Camila, minha técnica, estaria totalmente sozinho na piscina.
Estava na porta do vestiário que dá acesso a piscina, olhando em volta. Com aquele frio, chuva e vento a piscina estava vazia. Vendo a cena, pensei no pequeno espaço de tempo que passaria frio até chegar na raia em que costumo nadar. Lembrei que daqui a um mês vou entrar no Mar do Norte, com temperatura muito mais baixa, seja fora, seja dentro d’água (temperatura próvavel da água: 14 a 16 graus). O friozinho que eu estava sentindo ali não poderia me assustar. Mas assustou.”
Depois que se entra na água, dizem que o corpo acostuma. É, deve ser assim mesmo...
Estas situações descritas pelo Harry, são acompanhadas de calafrios, nervosismo e até uma certa preguiça. Mas uma pessoa que se dispõe a encarar um projeto como este e se preparar tanto jamais deveria se considerar preguiçosa, não é mesmo?
Fato é que quando esses pensamentos tomam conta do Harry, ele logo se lembra que o projeto é maior que aquele momento isolado e retoma o foco.
Ousaria dizer que focar no objetivo final é o que está dando ao nosso nadador o impulso que ele precisa.
Vamos lá, Harry. Daqui a pouco você vai sentir falta de tudo isso!

terça-feira, 1 de maio de 2012

O treino insano - parte 2



Ufa! Treino de 12 horas, só mesmo dividindo em dois posts.
 Porém, fique calmo, porque o Harry venceu!





Desde o início dos treinos para o Canal da Mancha o Igor vem dizendo que a travessia é 60% cabeça e 40% preparação física. O cuidado com o emocional deve ser tão importante quanto o condicionamento físico.

Durante essa noite toda, o Harry teve oportunidade de pensar nas pessoas que estão envolvidas no seu preparo. Uma delas é a Marie Josete, (terapeuta e coach do nadador).
Nesse treino, se viu novamente pensando na história da travessia de seu pai, em território argentino (releia no http://ilhabelacanal.blogspot.com.br/2012/01/conexoes.html). A conexão entre o nadador e seu pai parece ter ganhado uma importância especial. Ele perdeu o pai quando tinha 16 anos. Tanto tempo depois, sem conhecer a história do pai, se dispôs a encarar um projeto tão desafiador. A presença de seu pai está cada vez mais forte e uma das grandes conquistas de seu trabalho com Marie Josete foi ter consciência disso.
Nas últimas horas deste treino maluco, finalmente coisas boas começaram a fluir. Pensamentos positivos estavam em sua mente,assim como a lembrança de todas as pessoas, que direta ou indiretamente, vêm ajudando, incentivando, parando o Harry na rua e perguntando quando e como será a travessia.
Lembrar de tudo isso tornou a passagem do tempo mais agradável. O relógio deixou de ser um grande inimigo.
Às 5:30 ou 6 da manhã outro estímulo: O dia foi nascendo e a luz do sol, começou a entrar pelas janelas da piscina. 
Com certeza, foi uma sensação animadora. Talvez quando estiver enxergando a França, sinta a mesma emoção!
Nesse momento tudo estava melhorando, incluindo o ânimo e as dores (a função do uso de Aspirina C é justamente amenizar as dores. Os ombros do Harry agradeceram a ideia).
Muitas horas na água já mostravam marcas na pele nas mãos.
Por volta das 7:20 o Igor chegou e começou a apressar o nado, exigindo mais velocidade.
Aos poucos, os nadadores foram acelerando ao som dos gritos animados do técnico:
-"vocês estão vendo a França! Vocês estão vendo a praia! Vamos, vamos! E claro, isso deu uma gasolina extra aos atletas, até que terminassem as 12 horas.
Exatamente às 8 horas da manhã, felizes, eles completaram o treino.
Harry estava radiante, pois sabia e entendia que não seria tão fácil, mas havia nadado 12 horas seguidas. Isso sem dúvida já era uma vitória e uma sensação de realização. Apesar do cansaço, me contou: "me senti inteiro e apesar do cansaço, estava feliz".
Depois de 12 horas na horizontal, ficar em pé, fora da piscina foi outro desafio.
Após uma longa conversa com o Igor e os companheiros, chegou a hora de tomar um bom café da manhã e finalmente dormir.
Aproveito para terminar o relato com as palavras do próprio Harry, que com certeza expressam muito bem o que foi aquela experiência: "Não me vi no espelho, mas tenho certeza que dormi sorrindo, estava realmente feliz".
Bravo, amigo! Você venceu!