segunda-feira, 28 de novembro de 2011

É campeãooooooooooooo!




Este post deveria ser sonoro. Porque quando o Galvão Bueno, solta o famoso "É do Brasilllllll", a coisa fica muito mais emocionante! Ok, há quem diga que é de gosto discutível o estilo do locutor, mas não deixa de ser empolgante!
E não é que o Harry, sim o nosso Harry, foi o campeão de maratonas aquáticas de 2011?
Ele me contou assim... tão humilde, que eu demorei para entender a grandeza da coisa.
E foi aí que eu entendi o que é o Campeonato Paulista de Maratonas Aquáticas. É o seguinte: esta competição dura um ano, tem 9 provas e a última foi em novembro, em São Bernardo do Campo. A classificação geral é dada pela soma dos pontos de todas as provas. Foi então, em São Bernardo do Campo, que o Harry se sagrou campeão geral!
O início do campeonato foi em janeiro, na cidade de Santos. Nesta data acontece uma das etapas do campeonato mundial de maratonas aquáticas. Imagine que o Harry nadou com os melhores atletas que disputavam o campeonato internacional. Aí sim um campeonato regional ganha peso!
Cada etapa acontece em uma cidade diferente. Em geral as provas costumam ser no mar quando acontecem Ubatuba, Caraguatatuba, Santos e ilhabela, e em represas, nas cidades de São Bernardo do Campo, Caconde, Jacareí, Itatiba.
As provas se dividem de acordo com as distâncias: longas (4 a 6 km), média (2 a 3 Km) e as curtas (1 km). Neste ano, o Harry resolveu participar de duas provas: a longa e a curta, com intenção de descansar enquanto acontecia a média.
"Este ano foram provas mais complicadas, porque vários nadadores da minha faixa etária resolveram nadar a maioria das provas e por isso, em quase todas, tínhamos os 14 e as vezes 17 nadadores da mesma faixa etária. Como nem todos nadam as duas provas dificultou um pouco para mim, pois eles estavam sempre mais descansados. De qualquer forma, resolvi fazer as duas provas por conta também de aproveitar como treino para a travessia do canal da mancha.", contou Harry.
Em geral as provas de janeiro, fevereiro, março, abril são mais agradáveis pois ainda estamos no verão ou saindo dele, mas quando chegamos em maio, junho e, voltando em agosto e setembro a coisa fica um pouco pior. Em outubro/novembro as coisas voltam ao normal.
Em especial, este ano, tiveram poucas provas em águas geladas. Em contrapartida, tiveram provas em águas com mais correntes, inclusive provas onde muitos nadadores tinham dificuldade de passar algumas bóias (que demarcam a rota da prova).
O mais incrível dessa conquista foi que, justamente a última prova, no dia 6/11, foi no dia seguinte à 14 Bís!
Dessa vez, o Harry foi acompanhado da Sonia, sua esposa, que incrédula, viu o Igor indignado com o Harry, por ele ter optado por nadar somente a prova curta e não todas. Mas o mais inesperado foi que depois que o Harry terminou a prova e se trocou, foi "convidado" pelo Igor para voltar para água e nadar mais uns 2km. Só para soltar, entende? Enquanto fazia essa nadadinha, de soltura, o Harry calculou: "neste final de semana, nadei 30 km!" Básico, não?
Fato é que, aos meus olhos, isso foi uma conquista e tanto! Quando o Harry terminou de me contar que tinha ganhado o campeonato, a primeira coisa que falei pra ele foi: "Vc é praticamente o Neymar das águas!". Ele, discreto e comedido, já me respondeu: "Menos, Miriam, menos!"

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A prova 14 bis - o retorno - parte II

Saindo da água
O pódio - sem mais palavras!

Vamos retomar o post anterior com o seguinte diálogo:
-Quanto falta para o final da prova?
-Está vendo aquela rede de alta tensão?
-Sim!
-Então... quando você passar a rede vão faltar exatamente 7,5 km

"Quase morri com a resposta".... me contou o Harry. E continuou o relato:
"Voltei a nadar, mas as braçadas não entravam direito. Foi muita decepção (ainda faltava 1/3 da prova e a sensação era de que faltava muito mais, por conta do cansaço)! Estava certo de que a resposta seria: faltam 1,5 km!"
Só que a realidade não era bem essa. Tratou então de acertar as braçadas, focar na prova e recalcular o esforço. Ter consciência de que tipo de prova estava participando foi determinante naquela hora. Aos poucos, conseguiu recuperar o ritmo e perceber que estava avançando.
Nadar sem o barco de apoio escoltando fez diferença. E ele entendeu isso quando finalmente voltou a perceber um "certo movimento ao redor". Já sentindo a presença de outros nadadores por perto, o pensamento foi de ter retornado à prova, como se em algum momento ele tivesse saído! Mas o fato de ter nadado por um certo tempo sozinho, fez com que ele se sentisse perdido.
Foi nesse momento que se aproximou o barco do Agnaldo, chefe de equipe, técnico de maratonas e que também treina atletas para a travessia do Canal da Mancha (inclusive em conjunto com o Igor). Naquele momento, a presença dele foi muito importante. Aconselhou o Harry a sair do meio do canal e nadar mais próximo à margem. A cor da touca verde-limão foi importante para que tanto o Harry, quanto outro nadador fossem identificados como equipe e recebessem orientações específicas. As dicas foram fundamentais para dar um outro gás ao nosso amigo nadador. Com mais ânimo, foi acompanhando e orientado pelo técnico, por onde ele nadava.
Nessa hora, não só as determinações técnicas são importantes, mas também o apoio psicológico que esse trabalho de acompanhamento traz. "Nadar mais perto da margem e escoltado, fez com que eu tivesse a certeza de que estava nadando mais rápido", contou o Harry.
Como consequência, começou a avançar, ultrapassando outros nadadores. Logo percebeu a presença de mais barcos e isso foi o tão esperado sinal de que estava entrando na baía de Bertioga. Finalmente estava chegando!
Depois de uns 20 minutos, o barco do Agnaldo se aproximou de novo, apontando a direção da chegada.
Nas palavras do Harry: "esse momento foi delicioso, pois ao levantar a cabeça, mesmo estando longe, já pude avistar o pórtico da chegada. Dava para ver as pessoas que estavam na chegada. Se eu enxergava a chegada era porque faltava menos que 1 km para terminar. E tem um fato curioso que sempre acontece comigo: basta vislumbrar a chegada que uma força extra aparece. Costumo então, nadar com tanta garra como se fosse o início da prova!"
Naquela hora, o que o Harry mais pensava era no orgulho de estar finalizando uma prova de 24 km. A colocação parece importar muito menos do que a satisfação de completar o percurso.
Até a chegada ao pórtico, o Harry foi escoltado por outra lancha da equipe.
"Foi lindo, emocionante! Fui chegando e como já dava pé, levantei e caminhei até o pórtico. Assim que se passei por esse ponto, o cronômetro foi parado. Logo veio o comandante e colocou a medalha de participação, que é a mais valiosa. Outro oficial da base Aérea também veio cumprimentar." Explicou.
Como já é tradição, o nadador, ao completar a prova dirige-se à uma barraquinha de sopa e lá come uma canja de galinha com um pãozinho. Um tanto faminto, o Harry confessou que repetiu a dose. Para deixar a tradição ainda mais sacramentada!
Indo feliz para o banho, o Harry "se lembrou" que a barriga estava sangrando!
Parece que o machucado não foi o mais relevante da experiência desta travessia. Como me contou depois, naquele momento de exaustão e desespero, após 5 horas de prova, sozinho, o que ele mais pensou foi na travessia do Canal da Mancha. Na 14 bis, a temperatura da água era de 23 graus e a ambiente era de 30 graus. A água era limpa e transparente em vários pontos. Com certeza, na sua travessia de junho de 2012, as condições serão muito diferentes. Lá, 5 horas de natação representarão a metade do percurso. "Mesmo depois de ser impulsionado pelo Agnaldo, pensei e vislumbrei várias vezes como seria se já fosse a travessia do Canal da Mancha. Foi um momento intenso de reflexão. Nas condições que encontrei aqui já achei bastante difícil. Como vou encarar a travessia lá?"
Ouvindo o relato do Harry, imaginei quantas coisas ele tem oportunidade de pensar enquanto nada. Uma prova de mais de 6 horas, deve dar espaço para que os pensamentos voem muito longe. Talvez seja um momento mental muito criativo, mas penso que para algumas mentes, tanto tempo pensando pode ser muito perigoso!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A prova 14 bis - o retorno - parte I

Cenas da prova 14 Bis - 2011

Se lembrarem bem, no segundo post do blog (http://ilhabelacanal.blogspot.com/2011/07/tentando-entender-como-isso-comecou.html), meu caro Harry contou que já participou da prova 14 Bis anteriormente. Como ele mesmo explicou, não dá para comparar a performance de 2003 com a de 2011. Sejam as circunstâncias da prova, seja o seu preparo físico e mental, tudo é muito diferente nas duas edições.
Em 2003, ele ficou doente por uns 3 meses depois da prova. Dessa vez, mesmo cansado, a sensação foi muito diferente. Nada como estar bem preparado.
Enquanto seguia com o calendário normal de treinos, surgiu a data desta prova. O Harry pensou em participar, mas achou melhor perguntar primeiro ao Igor o que ele achava.
-Claro que vai nadar! Eu inclusive já avisei para os organizadores que você vai.
Uma resposta surpreendente para o Harry. Surpreendente por que? É obvio que o técnico ia querer ele numa prova de travessia como essa! No mesmo minuto já avisou ao Harry que ele teria que arrumar uma equipe, pois as equipes organizadas têm lanchas que dão o suporte necessário para a travessia. E foi assim que ele se inscreveu numa equipe de São Bernardo.
Os treinos vinham numa escalada boa, mas em vista de uma travessia de 24 km, com certeza algumas coisas iriam mudar. "Comecei a semana forte e no decorrer da semana, foi diminuindo, diminuindo até que na sexta-feira, dia que antecedeu a prova, e eu voltava de Buenos Aires, constatei que há dois dias da travessia, nadaria 3000 m. Nunca pensei que fosse achar 3000 m pouco!", disse o nadador.
Mais uma grata surpresa ao Harry. Sonia, sua esposa, resolveu acompanhá-lo nessa prova. Viajaram na sexta-feira para Santos. No hotel, encomendou não só os sanduiches para o jantar, como também um extra, que seria comido às 5:45h do dia seguinte, muito antes de qualquer café continental ser servido!
Na madrugada, digo manhã seguinte, rumou à Base Aérea, onde a prova começaria. Passada a burocracia da documentação, começou a sessão cosmética. A saber: nessas provas, os atletas lambuzam o corpo todo com vaselina e lanolina e por cima de tudo, uma boa camada de protetor solar. Essa maquiagem toda deixa os nadadores com um aspecto bem esquisito e o fato de não se verem no espelho é praticamente uma benção.
Feito o juramento e cantado o hino, o Comandante da Base Aérea convida os nadadores a entrarem na água. E então vem o tiro de largada. Tiro de canhão, que mesmo os atletas cientes do tamanho do barulho, sempre assustam!
O cenário na água: botes, caiaques, lanchas abastecidas com alimentos especiais e o mais importante: atletas!
Então o Harry me contou:
"Demos a largada e como fomos divididos em equipes de 6 a 7 nadadores que nadam mais ou menos igual, (para que seja mais fácil acompanhar os nadadores) saimos todos juntos. A direção foi dada, os relógios zerados, e as braçadas iniciadas, cada um no seu ritmo. Logo na saída já se observa que têm aqueles mais aflitos, onde a adrenalina não os deixa quietos e disparam rápido. O que geralmente acontece é que pouco tempo depois, se acalmam e voltam a nadar no ritmo habitual.
Depois de 30 minutos mais ou menos, para minha surpresa, uma lancha se aproximou. Era da nossa equipe e já veio para distribuir malto dextrina geladinha....hummm como caiu bem esta malto!" Não tenho a menor ideia do que seja isso, mas que maravilhosa iguaria pode ter um nome como este?
Melhor do que o lanchinho foi a sensação de segurança e cuidado que esta lancha de apoio trouxe.
O grupo seguia nadando junto, dando ânimo extra. Mesmo assim, o cansaço começou a bater...
Dependendo do momento, a orientação é nadar mais perto da margem ou mais no meio do canal. Em algumas partes, chega a ser tão raso que as mãos encostam no chão, ou até mesmo os nadadores ficam em pé, andando na lama (é, eu pensei a mesma coisa: meio desagradável a sensação, não?).
Foi em um desses trechos mais rasos que o Harry acabou raspando a barriga num galho. Ok, doeu, como ele me contou, mas somente na parada seguinte, para mais um lanchinho, depois da quarta hora de prova é que ele percebeu que sim, saia sangue da barriga. E não era pouco.
Cinco horas de prova. O cansaço já não era desprezivel. Os colegas de equipe se dividiram em um grupo mais a frente e outro mais atrás. E o Harry no meio, isolado. Acelerar para alcançar quem estava na frente não era boa estratégia para quem estava bem cansado e atrasar o ritmo para integrar a equipe que estava atrás também não parecia boa ideia.
Nadar sozinho deu um certo desespero e foi quando ele resolveu, pela primeira vez, perguntar ao barco de apoio quanto tempo de prova faltava.
Enquanto comia umas bolachas, teve a resposta à sua pergunta.
Querem saber em que pé que estava? então aguardem o próximo post!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Nadando um tango

 
E a saga continua. Não basta trabalhar. Não basta viajar a trabalho. Não basta treinar diariamente. Tem que viajar, cumprir as obrigações de trabalho, procurar uma piscina disponível e aí sim treinar.
A aventura mais recente na vida do Secretário, foi manter sua natação em terras portenhas.
Com uma viagem marcada para a Feira Internacional de Turismo em Buenos Aires, começou a busca por uma piscina para manter a rotina de braçadas. A mais próxima ficava numa academia, a algumas quadras do hotel. Detalhe 1: a piscina tinha 20 metros. Detalhe 2: piscina aquecida a 30 graus.
No primeiro dia, lá foi ele às 6:30 da manhã, à pé, para a academia. Não sei se pelo ritmo da caminhada ou pela empolgação, o Harry ia para o treino de bermuda, camiseta e no máximo um agasalho. Isso não chamaria a atenção se os outros pedestres não estivessem vestindo casaco e cachecol!
Segundo me contou, nadar numa piscina aquecida muda totalmente o rendimento de um treino longo (nesta fase, ele está nadando 4200 a 4500 metros por treino). A respiração muda e a pressão também. Mas, se era essa a única opção, então... só restava encarar.
Se ele ia para o treino de bermuda e agasalho, na volta, depois da sensação "estou sendo cozido num caldo", voltava de camiseta, o que causava mais estranheza ainda!
Durante o período da feira, o plano era nadar pela manhã e só depois seguir para os compromissos profissionais. Por conta dos horários em que conseguiu autorização da academia e do números de hermanos que compartilhavam a raia com ele, em algum dos dias, teve que dividir o treino em período diurno e período noturno.
No segundo dia dele na academia, os professores estranharam aquele brazuca persistente, determinado a nadar uma longa distância, um tanto absurda para cumprir numa piscina daquele tamanho. Foi a hora de explicar o projeto da travessura, digo travessia. Não é a primeira vez que ao explicar o objetivo final, o ambiente antes um tanto hostil, se torna muito mais amigável. Não foi diferente aqui. Como que num passe de mágica, boias, pranchas e até raias mais vazias foram disponibilizadas depois daquele papo. Respeito total!
As águas quentes ferveram os miolos do Harry, mas trouxeram um tanto de consciência a mais de que tipo de projeto se meteu, e que, a cada dia, novas dificuldades vão aparecer. O melhor foi perceber que apesar de tudo, superar as dificuldades está dando à ele fôlego a mais.