quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tentando entender como isso começou


Cenas da travessia 14 Bis

Justamente porque tento entender onde e como isso começou é que tenho que voltar um pouco no tempo.
Segundo Harry, a sua primeira loucura marítima foi em 2003. A prova se chama 14 Bis e compreende a travessia de Santos à Bertioga, no estado de São Paulo. São 24 km de natação que segundo dizem, podem se transformar em 30 ou 40, dependendo das marés.
Boa parte dos nadadores desistiu antes de completar a travessia. Antes de começar, conhecidos do Harry disseram à ele que, com o nível técnico que tinha, em 7 horas terminaria a prova.
Depois um tempo, os nadadores se distanciaram uns dos outros, pelas diferenças individuais de braçadas e ritmo e ele se viu um tanto sozinho. Na verdade, estava ele e seu relógio. De tempos em tempos, consultava o seu próprio tempo. E passaram as tais 7 horas sem que ele avistasse o final. Muito difícil controlar o stress com dados como este! Quanto tempo mais seria preciso para completar? Talvez nesse momento é que o grande teste acontece. Sabendo que o nadador é acompanhado todo o tempo por uma equipe de apoio, quanto desespero é necessário para simplesmente desistir? Quanta sanidade é necessária para dosar a energia ainda restante e continuar nadando?
Harry contou que num determinado momento avistou um canal, onde era o ponto de chegada. Viu gente acenando, bandeiras, muito barulho. Enfim, uma festa! Conforme foi se aproximando, percebeu mais claramente a realidade: uma marina abandonada, o tal funil da chegada nada mais era do que um grupo de poitas e as bandeiras só tremulavam porque ventava muito. E a festa de recepção? Praticamente não tinha uma alma viva!
Soube pelo barcos que estavam à sua volta, que daquele ponto até a chegada teria mais 1 km de braçadas.
Mas ele completou! Foi recebido pela tradicional equipe de bombeiros que aguarda os competidores com cobertores e caldo de galinha quente, numa tentativa de minimizar os "estragos" por uma perda tão intensa de calor corporal.
Digamos que esse seria o primeiro "porquê" do projeto Canal da Mancha. Esse relato só tem importância porque segundo Harry, com o perdão do trocadilho, foi um divisor de águas na sua auto-confiança. Finalizar a prova em 8 horas e 15 segundos e até mesmo receber um certificado, fez com que ele identificasse em si mesmo, força e determinação, que poderiam ser usadas nas mais diferentes situações que ele ainda pudesse vivenciar, ainda que fora do cenário esportivo.
O segundo "porquê" poderia ser o encontro com Percival Milani, que aos 45 anos atravessou o Canal da Mancha. Desse encontro nasceu a semente-base. Com treinamento adequado, sim é possível! E quanto mais ele ia se envolvendo com o assunto, mais pessoas normais (segundo ele) - que também fizeram a travessia - ia conhecendo. Num livro escrito pela nadadora Ana Mesquita (que também fez a travessia), leu uma frase que marcou: "pessoas que se expõe à desafios como subir o Everest ou atravessar o Canal da Mancha, não querem ser melhores nadadores, ou alpinistas e sim, melhores pessoas."
Pegando carona no pensamento de Ana Mesquita, Harry me disse que apesar de ter tido até mesmo surtos alucinógenos no final da travessia 14 Bis, depois daquela prova, se percebeu muito mais tranquilo e paciente.
Imaginar que aos 55 anos, encarando um desafio dessa grandeza, poderá despertar em outras pessoas motivação suficiente para tentar algo novo, chega a ser inspirador. A idade deixando de ser um fator limitador faz toda diferença.



Simples assim!

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