sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Quem precisa de um ábaco?



O incrível Lap-Track
Para quem não leu, há alguns posts atrás (http://ilhabelacanal.blogspot.com/2011/08/treino-solo.html), contei que o Harry lançou mão de um recurso pouco (ou nada) ortodoxo para contar as piscinas nadadas. Depois de perceber que a eficiência poderia não ser lá essas coisas e principalmente pela desaprovação do Igor, ele abandonou essa ideia tão criativa.
E eis que ele aparece com um super-hiper-mega-blaster relógio-cronômetro, à prova d’água, para resolver todos os problemas (ou pelo menos alguns). O nome do instrumento salvador é Lap-Track.
O aparelho é colocado na borda da piscina e marca: piscinas nadadas, tempo de cada volta e até as calorias queimadas (se o Harry fosse mulher, com certeza seria a primeira coisa que ele iria olhar).
Ok, o Harry está focado no treino e se preocupa basicamente em acionar o relógio nas saídas e chegadas.
Principalmente quando está treinando sozinho, pode saber qual o tempo das voltas nadadas e dos descansos, que alternam as séries de tiros. Mas ele me confessou que nessa busca por emagrecimento, também fica de olho nas calorias. Na hora do treino, o foco é a natação, mas depois, ele bem que vai checar!
 Sempre que possível, alguém filma os treinos, para que o Harry possa assistir depois e mandar para que o Igor faça as devidas correções. Recebe orientações e ganha broncas de brinde também!
A saber, ultimamente, para conciliar treinos e trabalho, tem nadado em horários que normalmente ainda não tem ninguém na piscina... Estas eventuais filmagens, são feitas quando os "humanos" (como define o Harry, os nadadores que treinam em horários razoáveis), chegam para nadar e ele está praticamente terminando o treino. Quando não acha nenhum cineasta de plantão, ele mesmo deixa o próprio celular filmando (junto com o Lap track, agora tem celular e tripé na beira da piscina). É a tecnologia a serviço do projeto Canal da Mancha!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

É campeãooooooooooooo!




Este post deveria ser sonoro. Porque quando o Galvão Bueno, solta o famoso "É do Brasilllllll", a coisa fica muito mais emocionante! Ok, há quem diga que é de gosto discutível o estilo do locutor, mas não deixa de ser empolgante!
E não é que o Harry, sim o nosso Harry, foi o campeão de maratonas aquáticas de 2011?
Ele me contou assim... tão humilde, que eu demorei para entender a grandeza da coisa.
E foi aí que eu entendi o que é o Campeonato Paulista de Maratonas Aquáticas. É o seguinte: esta competição dura um ano, tem 9 provas e a última foi em novembro, em São Bernardo do Campo. A classificação geral é dada pela soma dos pontos de todas as provas. Foi então, em São Bernardo do Campo, que o Harry se sagrou campeão geral!
O início do campeonato foi em janeiro, na cidade de Santos. Nesta data acontece uma das etapas do campeonato mundial de maratonas aquáticas. Imagine que o Harry nadou com os melhores atletas que disputavam o campeonato internacional. Aí sim um campeonato regional ganha peso!
Cada etapa acontece em uma cidade diferente. Em geral as provas costumam ser no mar quando acontecem Ubatuba, Caraguatatuba, Santos e ilhabela, e em represas, nas cidades de São Bernardo do Campo, Caconde, Jacareí, Itatiba.
As provas se dividem de acordo com as distâncias: longas (4 a 6 km), média (2 a 3 Km) e as curtas (1 km). Neste ano, o Harry resolveu participar de duas provas: a longa e a curta, com intenção de descansar enquanto acontecia a média.
"Este ano foram provas mais complicadas, porque vários nadadores da minha faixa etária resolveram nadar a maioria das provas e por isso, em quase todas, tínhamos os 14 e as vezes 17 nadadores da mesma faixa etária. Como nem todos nadam as duas provas dificultou um pouco para mim, pois eles estavam sempre mais descansados. De qualquer forma, resolvi fazer as duas provas por conta também de aproveitar como treino para a travessia do canal da mancha.", contou Harry.
Em geral as provas de janeiro, fevereiro, março, abril são mais agradáveis pois ainda estamos no verão ou saindo dele, mas quando chegamos em maio, junho e, voltando em agosto e setembro a coisa fica um pouco pior. Em outubro/novembro as coisas voltam ao normal.
Em especial, este ano, tiveram poucas provas em águas geladas. Em contrapartida, tiveram provas em águas com mais correntes, inclusive provas onde muitos nadadores tinham dificuldade de passar algumas bóias (que demarcam a rota da prova).
O mais incrível dessa conquista foi que, justamente a última prova, no dia 6/11, foi no dia seguinte à 14 Bís!
Dessa vez, o Harry foi acompanhado da Sonia, sua esposa, que incrédula, viu o Igor indignado com o Harry, por ele ter optado por nadar somente a prova curta e não todas. Mas o mais inesperado foi que depois que o Harry terminou a prova e se trocou, foi "convidado" pelo Igor para voltar para água e nadar mais uns 2km. Só para soltar, entende? Enquanto fazia essa nadadinha, de soltura, o Harry calculou: "neste final de semana, nadei 30 km!" Básico, não?
Fato é que, aos meus olhos, isso foi uma conquista e tanto! Quando o Harry terminou de me contar que tinha ganhado o campeonato, a primeira coisa que falei pra ele foi: "Vc é praticamente o Neymar das águas!". Ele, discreto e comedido, já me respondeu: "Menos, Miriam, menos!"

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A prova 14 bis - o retorno - parte II

Saindo da água
O pódio - sem mais palavras!

Vamos retomar o post anterior com o seguinte diálogo:
-Quanto falta para o final da prova?
-Está vendo aquela rede de alta tensão?
-Sim!
-Então... quando você passar a rede vão faltar exatamente 7,5 km

"Quase morri com a resposta".... me contou o Harry. E continuou o relato:
"Voltei a nadar, mas as braçadas não entravam direito. Foi muita decepção (ainda faltava 1/3 da prova e a sensação era de que faltava muito mais, por conta do cansaço)! Estava certo de que a resposta seria: faltam 1,5 km!"
Só que a realidade não era bem essa. Tratou então de acertar as braçadas, focar na prova e recalcular o esforço. Ter consciência de que tipo de prova estava participando foi determinante naquela hora. Aos poucos, conseguiu recuperar o ritmo e perceber que estava avançando.
Nadar sem o barco de apoio escoltando fez diferença. E ele entendeu isso quando finalmente voltou a perceber um "certo movimento ao redor". Já sentindo a presença de outros nadadores por perto, o pensamento foi de ter retornado à prova, como se em algum momento ele tivesse saído! Mas o fato de ter nadado por um certo tempo sozinho, fez com que ele se sentisse perdido.
Foi nesse momento que se aproximou o barco do Agnaldo, chefe de equipe, técnico de maratonas e que também treina atletas para a travessia do Canal da Mancha (inclusive em conjunto com o Igor). Naquele momento, a presença dele foi muito importante. Aconselhou o Harry a sair do meio do canal e nadar mais próximo à margem. A cor da touca verde-limão foi importante para que tanto o Harry, quanto outro nadador fossem identificados como equipe e recebessem orientações específicas. As dicas foram fundamentais para dar um outro gás ao nosso amigo nadador. Com mais ânimo, foi acompanhando e orientado pelo técnico, por onde ele nadava.
Nessa hora, não só as determinações técnicas são importantes, mas também o apoio psicológico que esse trabalho de acompanhamento traz. "Nadar mais perto da margem e escoltado, fez com que eu tivesse a certeza de que estava nadando mais rápido", contou o Harry.
Como consequência, começou a avançar, ultrapassando outros nadadores. Logo percebeu a presença de mais barcos e isso foi o tão esperado sinal de que estava entrando na baía de Bertioga. Finalmente estava chegando!
Depois de uns 20 minutos, o barco do Agnaldo se aproximou de novo, apontando a direção da chegada.
Nas palavras do Harry: "esse momento foi delicioso, pois ao levantar a cabeça, mesmo estando longe, já pude avistar o pórtico da chegada. Dava para ver as pessoas que estavam na chegada. Se eu enxergava a chegada era porque faltava menos que 1 km para terminar. E tem um fato curioso que sempre acontece comigo: basta vislumbrar a chegada que uma força extra aparece. Costumo então, nadar com tanta garra como se fosse o início da prova!"
Naquela hora, o que o Harry mais pensava era no orgulho de estar finalizando uma prova de 24 km. A colocação parece importar muito menos do que a satisfação de completar o percurso.
Até a chegada ao pórtico, o Harry foi escoltado por outra lancha da equipe.
"Foi lindo, emocionante! Fui chegando e como já dava pé, levantei e caminhei até o pórtico. Assim que se passei por esse ponto, o cronômetro foi parado. Logo veio o comandante e colocou a medalha de participação, que é a mais valiosa. Outro oficial da base Aérea também veio cumprimentar." Explicou.
Como já é tradição, o nadador, ao completar a prova dirige-se à uma barraquinha de sopa e lá come uma canja de galinha com um pãozinho. Um tanto faminto, o Harry confessou que repetiu a dose. Para deixar a tradição ainda mais sacramentada!
Indo feliz para o banho, o Harry "se lembrou" que a barriga estava sangrando!
Parece que o machucado não foi o mais relevante da experiência desta travessia. Como me contou depois, naquele momento de exaustão e desespero, após 5 horas de prova, sozinho, o que ele mais pensou foi na travessia do Canal da Mancha. Na 14 bis, a temperatura da água era de 23 graus e a ambiente era de 30 graus. A água era limpa e transparente em vários pontos. Com certeza, na sua travessia de junho de 2012, as condições serão muito diferentes. Lá, 5 horas de natação representarão a metade do percurso. "Mesmo depois de ser impulsionado pelo Agnaldo, pensei e vislumbrei várias vezes como seria se já fosse a travessia do Canal da Mancha. Foi um momento intenso de reflexão. Nas condições que encontrei aqui já achei bastante difícil. Como vou encarar a travessia lá?"
Ouvindo o relato do Harry, imaginei quantas coisas ele tem oportunidade de pensar enquanto nada. Uma prova de mais de 6 horas, deve dar espaço para que os pensamentos voem muito longe. Talvez seja um momento mental muito criativo, mas penso que para algumas mentes, tanto tempo pensando pode ser muito perigoso!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A prova 14 bis - o retorno - parte I

Cenas da prova 14 Bis - 2011

Se lembrarem bem, no segundo post do blog (http://ilhabelacanal.blogspot.com/2011/07/tentando-entender-como-isso-comecou.html), meu caro Harry contou que já participou da prova 14 Bis anteriormente. Como ele mesmo explicou, não dá para comparar a performance de 2003 com a de 2011. Sejam as circunstâncias da prova, seja o seu preparo físico e mental, tudo é muito diferente nas duas edições.
Em 2003, ele ficou doente por uns 3 meses depois da prova. Dessa vez, mesmo cansado, a sensação foi muito diferente. Nada como estar bem preparado.
Enquanto seguia com o calendário normal de treinos, surgiu a data desta prova. O Harry pensou em participar, mas achou melhor perguntar primeiro ao Igor o que ele achava.
-Claro que vai nadar! Eu inclusive já avisei para os organizadores que você vai.
Uma resposta surpreendente para o Harry. Surpreendente por que? É obvio que o técnico ia querer ele numa prova de travessia como essa! No mesmo minuto já avisou ao Harry que ele teria que arrumar uma equipe, pois as equipes organizadas têm lanchas que dão o suporte necessário para a travessia. E foi assim que ele se inscreveu numa equipe de São Bernardo.
Os treinos vinham numa escalada boa, mas em vista de uma travessia de 24 km, com certeza algumas coisas iriam mudar. "Comecei a semana forte e no decorrer da semana, foi diminuindo, diminuindo até que na sexta-feira, dia que antecedeu a prova, e eu voltava de Buenos Aires, constatei que há dois dias da travessia, nadaria 3000 m. Nunca pensei que fosse achar 3000 m pouco!", disse o nadador.
Mais uma grata surpresa ao Harry. Sonia, sua esposa, resolveu acompanhá-lo nessa prova. Viajaram na sexta-feira para Santos. No hotel, encomendou não só os sanduiches para o jantar, como também um extra, que seria comido às 5:45h do dia seguinte, muito antes de qualquer café continental ser servido!
Na madrugada, digo manhã seguinte, rumou à Base Aérea, onde a prova começaria. Passada a burocracia da documentação, começou a sessão cosmética. A saber: nessas provas, os atletas lambuzam o corpo todo com vaselina e lanolina e por cima de tudo, uma boa camada de protetor solar. Essa maquiagem toda deixa os nadadores com um aspecto bem esquisito e o fato de não se verem no espelho é praticamente uma benção.
Feito o juramento e cantado o hino, o Comandante da Base Aérea convida os nadadores a entrarem na água. E então vem o tiro de largada. Tiro de canhão, que mesmo os atletas cientes do tamanho do barulho, sempre assustam!
O cenário na água: botes, caiaques, lanchas abastecidas com alimentos especiais e o mais importante: atletas!
Então o Harry me contou:
"Demos a largada e como fomos divididos em equipes de 6 a 7 nadadores que nadam mais ou menos igual, (para que seja mais fácil acompanhar os nadadores) saimos todos juntos. A direção foi dada, os relógios zerados, e as braçadas iniciadas, cada um no seu ritmo. Logo na saída já se observa que têm aqueles mais aflitos, onde a adrenalina não os deixa quietos e disparam rápido. O que geralmente acontece é que pouco tempo depois, se acalmam e voltam a nadar no ritmo habitual.
Depois de 30 minutos mais ou menos, para minha surpresa, uma lancha se aproximou. Era da nossa equipe e já veio para distribuir malto dextrina geladinha....hummm como caiu bem esta malto!" Não tenho a menor ideia do que seja isso, mas que maravilhosa iguaria pode ter um nome como este?
Melhor do que o lanchinho foi a sensação de segurança e cuidado que esta lancha de apoio trouxe.
O grupo seguia nadando junto, dando ânimo extra. Mesmo assim, o cansaço começou a bater...
Dependendo do momento, a orientação é nadar mais perto da margem ou mais no meio do canal. Em algumas partes, chega a ser tão raso que as mãos encostam no chão, ou até mesmo os nadadores ficam em pé, andando na lama (é, eu pensei a mesma coisa: meio desagradável a sensação, não?).
Foi em um desses trechos mais rasos que o Harry acabou raspando a barriga num galho. Ok, doeu, como ele me contou, mas somente na parada seguinte, para mais um lanchinho, depois da quarta hora de prova é que ele percebeu que sim, saia sangue da barriga. E não era pouco.
Cinco horas de prova. O cansaço já não era desprezivel. Os colegas de equipe se dividiram em um grupo mais a frente e outro mais atrás. E o Harry no meio, isolado. Acelerar para alcançar quem estava na frente não era boa estratégia para quem estava bem cansado e atrasar o ritmo para integrar a equipe que estava atrás também não parecia boa ideia.
Nadar sozinho deu um certo desespero e foi quando ele resolveu, pela primeira vez, perguntar ao barco de apoio quanto tempo de prova faltava.
Enquanto comia umas bolachas, teve a resposta à sua pergunta.
Querem saber em que pé que estava? então aguardem o próximo post!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Nadando um tango

 
E a saga continua. Não basta trabalhar. Não basta viajar a trabalho. Não basta treinar diariamente. Tem que viajar, cumprir as obrigações de trabalho, procurar uma piscina disponível e aí sim treinar.
A aventura mais recente na vida do Secretário, foi manter sua natação em terras portenhas.
Com uma viagem marcada para a Feira Internacional de Turismo em Buenos Aires, começou a busca por uma piscina para manter a rotina de braçadas. A mais próxima ficava numa academia, a algumas quadras do hotel. Detalhe 1: a piscina tinha 20 metros. Detalhe 2: piscina aquecida a 30 graus.
No primeiro dia, lá foi ele às 6:30 da manhã, à pé, para a academia. Não sei se pelo ritmo da caminhada ou pela empolgação, o Harry ia para o treino de bermuda, camiseta e no máximo um agasalho. Isso não chamaria a atenção se os outros pedestres não estivessem vestindo casaco e cachecol!
Segundo me contou, nadar numa piscina aquecida muda totalmente o rendimento de um treino longo (nesta fase, ele está nadando 4200 a 4500 metros por treino). A respiração muda e a pressão também. Mas, se era essa a única opção, então... só restava encarar.
Se ele ia para o treino de bermuda e agasalho, na volta, depois da sensação "estou sendo cozido num caldo", voltava de camiseta, o que causava mais estranheza ainda!
Durante o período da feira, o plano era nadar pela manhã e só depois seguir para os compromissos profissionais. Por conta dos horários em que conseguiu autorização da academia e do números de hermanos que compartilhavam a raia com ele, em algum dos dias, teve que dividir o treino em período diurno e período noturno.
No segundo dia dele na academia, os professores estranharam aquele brazuca persistente, determinado a nadar uma longa distância, um tanto absurda para cumprir numa piscina daquele tamanho. Foi a hora de explicar o projeto da travessura, digo travessia. Não é a primeira vez que ao explicar o objetivo final, o ambiente antes um tanto hostil, se torna muito mais amigável. Não foi diferente aqui. Como que num passe de mágica, boias, pranchas e até raias mais vazias foram disponibilizadas depois daquele papo. Respeito total!
As águas quentes ferveram os miolos do Harry, mas trouxeram um tanto de consciência a mais de que tipo de projeto se meteu, e que, a cada dia, novas dificuldades vão aparecer. O melhor foi perceber que apesar de tudo, superar as dificuldades está dando à ele fôlego a mais.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tem paulista em mar carioca

Ok, esta é uma foto ilustrativa, mas talvez seja assim que o
Harry tenha visto o mar da Barra da Tijuca, naquele dia

Na semana passada, o secretário de Turismo da Ilhabela foi à ABAV (feira de turismo) no Rio de Janeiro. Opa! Grande oportunidade de aliar trabalho aos treinos no mar. O Hotel em que se hospedou ficava em frente à praia da Barra da Tijuca e pelo horário da feira, o Harry poderia treinar cedo, antes dos compromissos de trabalho.
No primeiro dia, lá foi ele atravessar a rua, munido de seu arsenal esportivo, super animado com o treino que faria. Apesar de ter crescido em agitadas águas do Guarujá (litoral paulista) e ter convivido alguns anos com as ondas não menos agitadas do litoral israelense, a primeira impressão ao encarar o mar, naquela manhã foi: Hum... acho que terei problemas! Lá na Ilhabela o mar é tão calminho...
O treino prescrito pelo Igor era de pelo menos 1 hora no mar e mais 40 minutos com o tensor, na piscina de 7 metros do hotel (aquela moleza de piscina semi-olímpica parece que não será padrão). E agora? O Harry não tinha nem ideia de por onde entrar num mar revoltado como aquele. É... parece que Netuno estava nervoso naquela semana.
Depois de muito observar o cenário, o bravo nadador avistou um grupo de surfistas na água. Nada melhor do que "colar" em quem está acostumado. Os surfistas nem estavam tão distantes da praia. Passada a arrebentação, o Harry ficou mais confiante, pois para ele, essa parte seria muito mais difícil do que realmente foi.
A "apresentação" não poderia ser mais direta: "oi pessoal, tem paulista no mar, então, por favor, de vez em quando olhem pra mim, porque estarei nadando aqui na próxima hora"!
Alguns acharam graça, outros, depois de entenderem a abordagem como um pedido de permissão para invadir o terreno alheio, se mostraram amigáveis. Esse primeiro contato foi importante para quem tinha intenção de voltar nos próximos dias.
Nos dias que se sucederam, o intrépido nadador continuou com treinos na praia. E tudo bem. Mas no último dia, ao chegar na praia, onde estavam os colegas surfistas? Não tinha ninguém... Isso não deve ser lá boa coisa, pensou ele.
O Harry percebeu que o mar não estava nem para peixe, quanto mais para humanos. As ondas arrebentavam de tal forma que facilmente levantam uma cortina d’água de 20 metros! Naquele momento, se deu conta de que os únicos esportistas do pedaço estavam praticado atividades... terrestres!
Para não dizer que era exagero, na orla toda deveriam ter no máximo 10 surfistas.
É, Harry, acho que hoje o problema parece mais sério... a solução foi conversar com um grupo de salva-vidas e bombeiros, que estavam em prontidão, num dos postos de bombeiros da praia. O Harry se aproximou, timidamente e pediu para que eles, na medida do possível, dessem uma checada de vez em quando para garantir que ele estava bem. Muito sem graça, ainda afirmou que não precisavam se preocupar, era só uma medida cautelar, mas que seria muito benvinda uma olhada esporádica.
Acompanhe a resposta do comandante: "Meu filho, é o seguinte: o mar esta muito bravo hoje, muita correnteza e água muito fria. Não aconselho você a nadar, e olhando para a minha sacola de plastico, disse: pegue o seu tensor e vá para a piscina do hotel.....vai ser melhor... "
Isso sim foi um banho de água fria!
"Eu não estava acreditando. Só via boicotada a minha chance de dar umas braçadas num mar mais agitado. Aí tomei coragem e comecei a ver por onde seria melhor entrar. Eles falavam comigo e não se conformavam, além de me aconselhar a não entrar, pois com aquela correnteza eu iria entrar e parar a pelo menos a 1 km dali. Isso sem esquecer que a água estava muito fria", Contou o teimo.., ops, destemido nadador.
Nesse momento, o Harry achou necessário abrir o jogo. Contou do porquê dele estar ali, a questão da temperatura da água ser especialmente providencial e deu detahes do projeto do Canal da Mancha.
Foi então que viraram os melhores amigos. Nada como um bom papo para se aceitarem diferenças! Depois de muitas perguntas para aplacar a curiosidade, os bombeiros continuavam desacreditando da insistência desse treino, justo naquelas condições. Mas, já amolecidos (ou conformados), passaram a orientar o Harry de qual área era melhor para ele entrar e quais os cuidados que ele deveria especialmente ter. Depois de mais uns 10 minutos de precisas instruções, era hora de encarar a arrebentação. Palavras finais dos bombeiros: "se for difícil voltar, não hesite em nos chamar e nada de fazer loucuras, hein?"
"Hein" digo eu! Se não era loucura o que ele tava fazendo até agora, o que seria então?
Deixo para o Harry descrever os momentos seguintes:
"La fui eu, e logo que coloquei minhas canelas na água, senti um frio que há tempos não sentia. Muito frio, mas muito frio mesmo, não me lembrava de ter nadado numa água tão fria. Comecei então a tentar passar todas as ondas e chegar ao outro lado da arrebentação. Entra onda, sai onda e dá-lhe mergulho; água fria e de novo, altas ondas. Eu mergulhando, levantando e respirando. Já tinha engolido um pouco de água, mas o pior foi ver que depois de tanto exercício, praticamente não saía do lugar. Por conta do orgulho, ia tentando passar as ondas e ir até onde a arrebentação não existisse mais. Depois de mais ou menos 30 minutos, consegui passar a arrebentação, mas estava totalmente sem forças. E o orgulho dizendo: respira, para um pouco e continua!
Passei a arrebentação e praticamente não tinha forças. Resolvi nadar um pouco e parar mais à frente, mas quando olhei aonde estava, não acreditei: depois desse tempo todo tentando passar a arrebentação, estava muito longe dos bombeiros, do meu hotel...
Aos poucos fui percebendo que minhas forças estavam voltando e que seria quase impossível chegar aonde eles estavam. Nadei muito, sem parar, usando como referência duas ilhotas na direção do meu hotel. Com muito custo consegui chegar no meio do caminho, mas totalmente sem forças. Foi quando depois de quase uma hora na água, resolvi parar e voltar para praia. E a praia estava longe...
Mas eu consegui. Fui andando ao encontro dos bombeiros salva-vidas. Tinha prometido que não daria dor de cabeça à eles, e eles estavam todos de pé, me procurando. Não acreditaram que era eu quem via andando na praia.....Respiraram aliviados! Quando cheguei lá, tive que dar razão a eles e a tudo que haviam comentado. Conversamos mais um pouco e voltei ao hotel para trocar de roupa e trabalhar.

Aprender a respeitar o mar foi muito importante embora o "método" de aprendizagem foi um tanto dramático!
Confesso que transcrevi as palavras do próprio Harry, porque mesmo sentada no meu computador, longe de qualquer onda, só de ler, fiquei sem fôlego!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Em águas santas


Treinando na piscina do kibutz
No mês de setembro, comemorou-se o ano novo judaico. Pegando carona nesta data festiva, o Harry foi matar as saudades da família que mora em Israel.
Obviamente que uma das primeira preocupações dele foi: onde eu vou nadar neste período? Indo para o quarto mês de treinamento, esta viagem não aconteceria sem que uma piscina estivesse disponível e garantida. Para a sorte do Harry, a família dele mora num kibutz (nota explicativa: kibutz é uma espécie de comunidade agrícola, onde as casas compartilham de áreas comuns. Hoje em dia, poderia ser comparado aos condomínios residenciais, como os de algumas cidades brasileiras, só que com "cara" de fazenda).
Em geral, nas áreas comuns há pelo menos uma piscina. Especificamente nesse kibutz uma das piscinas é semi-olímpica. Que sorte, hein, Harry! Mas... sempre tem um mas, os horários em que dsiponibilizaram para ele treinar eram muito ruins. Depois de um pedido especial, recebeu autorização para que durante a sua estadia, pudesse treinar quando fosse mais conveniente.
Por falar em conveniência, o fato da piscina ficar a 300 metros da casa da mãe dele não poderia ser mais conveniente! Segundo ele: "saía de casa só com a sunga, a prancha, a boia, o papel com treino, o suplemento, o oculos e a touca, (básico, não!) e isso depois de ter tomado um belo café da manhã com minha mãe. Foi simplemente maravilhoso! Me senti um atleta de ponta, em preparação para a Olimpíada..."
Depois do treino, hora do descanso, afinal, ninguém é de ferro!
À tarde, alternava caminhadas com mais um pouquinho de piscina.
O período de treinamento no kibutz foi especialmente bom. Durante 9 dias, o Harry experimentou o que vive um atleta profissional, onde seu foco é unicamente o treinamento. Foram treinos intensos, com concentração absoluta e que consequentemente tiveram resultados mais positivos. Aliar momentos de esforço com descanso, num equilíbrio adequado, fez toda a diferença.
Uma das partes do treinamento é contar as braçadas. A contagem dá a informação da quantidade de força usada na travessia entre uma borda e outra. O ideal é fazer entre 12 e 14 braçadas numa piscina de 25 metros (semi-olímpica). No momento, a marca está entre 16 e 18 e isso direciona o nadador para dosar melhor a sua força.
Além de dispor de uma boa piscina a poucos metros de casa, ter tempo de esforço e descanso balanceados e muitos mimos de mãe, águas da terra santa deram mais entusiasmo a esta etapa do processo de preparação.
Ok, Harry, você aliou o Buda da ioga com o Moisés das águas santas e injetou mais ânimo ao projeto!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Será que Freud explica?



No último post contei sobre as aventuras do Harry no mundo maravilhoso e equilibrado da ioga.
O que eu não tinha contado ainda (mas agora vou ter que contar) é que, por alguma razão ainda desconhecida, quase todas as vezes que o Harry vai contar para alguém que começou aulas de ioga, ao invés de ioga, acaba falando ballet. Entre os amigos, ok, já virou piada, mas quando o secretário de Turismo de Ilhabela, anuncia no gabinete, com incrível entusiasmo, que finalmente começou aulas de ballet, pode soar estranho...
A pergunta que não quer calar: qual a livre associação que a mente dele faz entre uma atividade e outra? Sem que haja nenhum tipo de preconceito, que fique bem claro, por que esta confusão? Vamos lá Harry, conte se logo depois da travessia você vai tentar também uma audição no Royal Ballet de Londres.
Se não for essa a razão, só me resta dizer: vai que é tua, Sigmund!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Namastê



Certa vez ouvi uma frase que resume bem um dos princípios da filosofia budista: "No mud, no lotus". Numa tradução livre para o português, seria como: "sem lama não há flor-de-lótus". Pelo que entendi, a flor-de-lótus só nasce em terreno pantanoso. A metáfora se refere ao fato de que na vida precisamos encarar nossas dificuldades se quisermos obter algum conhecimento. A imagem de uma flor nascendo da lama, me dá a sensação de que recebemos uma recompensa por mergulharmos em nossas próprias dificuldades.
E o que isso tem a ver com o Harry? Pelo jeito tudo!
Como ele mesmo se define como uma pessoa dispersa, a sugestão da prática de ioga pode ser um santo recurso para por foco na sua prórpia vida.
Depois daquele treino + conversa (pesada, aliás) com o Igor, a ideia de praticar ioga ganhou mais simpatia.
E como foi a primeira aula? Difícil... ou como diria o Harry: "o inicio foi até engraçado, mas muito muito difícil, falta de equilíbrio total.....desconcentração...mas é pra isso mesmo que fui fazer ioga, e apesar de dificil, eu gostei, embora ache que vai demorar muito entrar em sintonia. Alguns exercicios são muito complicados..."
Voltou para casa feliz e animado para a próxima aula. E para sua surpresa, a segunda aula foi muito mais difícil! O fato da professora ser profissionalmente zen, ajudou muito, afinal, ninguém espera nada menos de uma professora de ioga, do que muita paciência.
Saber das dificuldades de se concentrar não resolve todos os problemas. A terceira aula foi 1% melhor, mas estava longe de ser um encontro entre o Harry e a tal da sintonia!
Nesse estágio, apareceram algumas viagens o que mandou o Harry para um lado do mundo, e a ioga + sintonia para outro. Resumo da ópera: parece que "alguém" desistiu da ioga...
E como o destino não está mesmo nas nossas mãos, o Harry encontrou a professora de ioga na rua! Apesar do constrangimento, das desculpas, das explicações, não teve jeito: resolveu retomar as aulas. E agora com um plano B: quando puder, aulas em grupo; se viajar, vai repor individualmente as aulas em outras datas. Ter momentos do dia onde não se faz NADA parece que só vai existir na vida do nadador depois da travessia.
É isso aí, Harry, como disse o monge budista Thich Nhat Hanh: no mud, no lotus.


Como será que da lama nasce
flor tão bonita como a flor-de-lótus?

 

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Retomando o fio da meada



Acho que uma explicação sobre esse longo intervalo se faz necessária.
No último mês, o Harry esteve envolvido com tantas atividades diferentes, que algumas coisas naturalmente tiveram que ser sacrificadas.
Uma vez que o conteúdo do blog é informalmente enviado à mim por ele e, só então escrevo os posts, quando os relatos escasseam, os posts consequentemente também ficam pouco frequentes.
Mas... é hora de retomar. Sei que teremos ainda muitas histórias interessantes sobre esse projeto incomum.
Eu e o Harry vamos nos comprometer a alimentar o blog com a frequência necessária para que nenhum fato curioso fique sem registro.
Por esta razão, nada de muito papo.Vamos já para o próximo post!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Recalculando a trajetória



Mais um treino no Baetão, às 6 da manhã de sábado. Mais um final de semana de reflexões.
Na semana passada, como o Harry vinha à São Paulo, mais um treino no Baetão, São Bernardo do Campo, foi marcado com o Igor.
Por volta de 9h, recebo uma mensagem de texto do Harry. Dava para sentir o desolamento dele em tão poucos caracteres. Naquele sábado, levou um banho de água fria. Não na piscina eventualmente sem aquecimento, mas sim do Igor.
Entre as muitas observações que fez ao Harry, o ábaco, que eu tinha achado tão criativo, foi condenado por ele! Como o Harry me contou depois, apesar da ideia ser inusitada, aos olhos do Igor, essa história de contar as piscinas usando o arefato milenar era absurda, contribuindo inclusive com uma desconcentração no momento do treino. Na minha percepção, contar as piscinas nadadas deve ser parte do treino mental que um atleta deste nível tem que ter indubitavelmente. Delegar ao ábaco é dar chance para a mente voar entre as braçadas e não focar no que exatamente o nadador está fazendo naquele momento, naquele lugar e, principalmente porquê está fazendo tudo aquilo.
As observações seguiram pesadas, afirmando que tudo estava pior. O nado, inclusive. A pior parte foi
ouvir sobre a luz vermelha: esta luz sinaliza um alerta de que nessas condições valeria a pena reconsiderar o projeto. Difícil, não?
Obviamente, na condição de amigos, eu e meu marido acolhemos o nosso caro Harry, mas passado o impacto inicial, imagino que ele mesmo se questionou se estava no caminho certo. Acho que a primeira pergunta que se fez foi se realmente queria bancar isso tudo até o final. Uma vez a resposta ter sido afirmativa, era a hora de mudar as atitudes.
A primeira providência: mudar o horário do treino na piscina. Até então, a rotina dele era a de trabalhar até às 18h e depois nadar. Mas... sempre tem um mas, isso acontece com quem tem autonomia total sobre seus horários de trabalho. O Secretário de Turismo não se encaixa nessa categoria. E o que era o mais frequente? O final do dia ia se aproximando, o volume de trabalho não diminuia e só de pensar que estava atrasado para o treino já era suficiente para deixar o Harry estressado.
Fiquei pensando que atravessar o Canal da Mancha, competir numa olimpíada ou disputar a Copa do Mundo, são eventos para atletas profissionais cujas atividades diárias estão totalmente pautadas para esses objetivos. Quem são os atletas que se dispõem à esses desafios e que além de treinar, ainda usam o seu dia para, digamos, trabalhar? Claro que em algum momento isto tudo faz diferença! Aonde se compensa estas horas de trabalho que "roubaram" horas de treinamento?
Por esta razão, a partir daquela segunda-feira, às 6 da manhã, o Harry já está na piscina. Depois do treino, pode vestir a roupa de trabalho sossegado com a sensação de cumprimento de dever. O que deve ter aliviado todo aquele stress acumulado. O final do dia ficou reservado para treinos de musculação e alongamentos. Ah, e aulas de ioga!
Esperamos que essa conversa com o Igor tenha direcionado nosso nadador para um caminho menos tenso e mais produtivo e que ainda que esses momentos de encruzilhada aconteçam, ele consiga recalcular a trajetória e seguir em frente!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pensando fora da caixa


No post anterior, comprovei que o meu amigo Harry tem capacidade de inovar. Usar um ábaco para a contagem de piscinas nadadas, provavelmente não é recurso de nenhum técnico consagrado (muito pelo contrário, mas isso fica para o próximo post)!
Mas, não é só nessa hora que ele se viu desafiado a pensar fora da caixa.
Como secretário de Turismo e como pessoa física, percebeu que quando for viajar, vai ter sempre que considerar aonde vai treinar. Atenção comunidade hoteleira: se o seu hotel possui piscina, ainda que pequena, avise o nadador Harry Finger!
Como o próprio Harry me disse, a partir de agora, aonde ele for, vai ter que achar uma piscina para treinar.
Há alguns dias atrás, surgiu a oportunidade de passar uns dias na cidade de Tiradentes, MG. A primeira coisa que ele fez foi verificar se tinha piscina no hotel. A segunda, foi contar para o Igor que a piscina tinha 12 metros...
Pois é... nem um ábaco daria conta de garantir uma contagem precisa, numa piscina desse tamanho!
Foi aí que a experiência do técnico especialista entrou em ação! Na bagagem, foi também uma tira de borracha. Aliás, chama-se extensor e é vendido em lojas de produtos especializados em natação.
A ideia seria amarrar a tira de borracha (que é duplas, com 3 ou 6 metros) no corpo e em algo resistente, fora da piscina. O exercício foi nadar, vencendo a resistência da borracha.
O hotel oferecia duas opções de piscina: coberta e aquecida e descoberta e... gelada. Desnecessário dizer em qual delas ele treinou, certo? Nem mesmo o gerente acreditou que ele escolheria a piscina externa. Mal sabe ele que por mais gelada que pudesse estar, a temperatura da água nem de perto estaria como a do Canal da Mancha!
Acho que o pacote de desafios parece só aumentar. Como é que dá para encarar uma viagem à Tiradentes, com piscina pequena, gelada e dieta controlada em plena temporada de festival gastronômico da cidade?
Caro Harry, não deve mesmo ter sido fácil.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Treino solo


Para quem nunca viu, isto é um ábaco!
Provavelmente nessa jornada, vários resgates serão feitos. E não me refiro somente aos resgates técnicos e emocionais.
Pois não é que o Harry apareceu num treino com um ábaco?
Para os mais jovens, vai a foto aqui no post do utensílio citado!
O ábaco é um antigo instrumento de cálculo, formado por uma moldura com bastões ou arames paralelos, dispostos no sentido vertical, correspondentes cada um a uma posição digital (unidades, dezenas,...) e nos quais estão os elementos de contagem (fichas, bolas, contas,...) que podem fazer-se deslizar livremente. Teve origem provavelmente na Mesopotâmia, há mais de 5.500 anos. O ábaco pode ser considerado como uma extensão do ato natural de se contar nos dedos. Emprega um processo de cálculo com sistema decimal, atribuindo a cada haste um múltiplo de dez. Ele é utilizado ainda hoje para ensinar às crianças as operações de somar e subtrair. (Fonte: Wikipédia).
E o que o Harry vai fazer com um ábaco mesmo?
Em alguns treinos, vai experimentar o que ele mesmo chamou de "treino solo". São aqueles dias, que como o próprio Harry me contou, só entra na água quem tem um objetivo específico, é destemperado ou maluco mesmo!
Como já experimentou outras vezes, nadar pode ser tanto um exercício de extrema concentração, como também de caos mental.
Talvez pelos novos encargos como secretário de Turismo, os momentos de caos estejam mais constantes. E quem é que consegue contar o número de piscinas nadadas quando a mente está em looping?
Foi aí que surgiu a ideia do ábaco.
Para garantir que a contagem não seja prejudicada, um ábaco foi colocado numa das bordas. A cada piscina nadada, o "contador high tech" é acionado.
Parece que além de qualidade técnica, condicionamento físico e preparação emocional, para se atravessar o Canal da Mancha é preciso de muita criatividade!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cara a cara com o técnico


No dia 6/8, aproveitando que o Harry viria à São Paulo na semana anterior, Igor marcou um treino. Foi no clube Baetão, em São Bernardo do Campo. Por ser da Federação Paulista, da Confederação Brasileira de Maratonas e também técnico de maratonas aquáticas na França, a agenda do Igor não deve ser das mais flexíveis. Os treinos em que estarão juntos serão agendados conforme forem possíveis. 
Dessa forma, naquele sábado, às 8 horas da manhã, nosso nadador estava lá, no Baetão. Imaginando como seria o treinamento, ficou muito feliz quando viu que treinaria na piscina aquecida! Nada como se preparar para o pior...
Nadou com o Harry, um rapaz de 32 anos, Max. Eles devem viajar juntos, pois atravessarão no mesmo dia, só que em largadas diferentes.
Nesse treino, Harry também  reencontrou outro nadador: Alfredo. Embora já se conheçam há mais de 5 anos, só agora estão tendo a oportunidade de treinarem juntos, já que nesse momento, ambos têm um projeto em comum. Em junho desse ano, Alfredo tentou atravessar o Canal, mas depois de 5 horas nadando, mesmo tendo completado metade do percurso, não conseguiu terminar.
Mais uma lição aprendida: nem sempre se consegue da primeira vez. Em setembro de 2012, Alfredo pretende voltar e completar todo o trajeto. Por essa razão, já voltou à rotina de treinamentos.
Conversaram bastante, inclusive sobre as razões pelas quais ele não conseguiu terminar e com certeza, mais um "tijolinho" de conhecimento foi assentado na mente do Harry: "foi emocionante, pois ele nos contou porque não conseguiu atravessar e estava lá, depois de ter treinado por um ano, de novo, começando do zero conosco.....outro exemplo que vou levar comigo."
Neste treino, apesar do Igor estar bastante amigável e cordial nada foi facilitado para os atletas!
Muitos exercícios de coordenação e principalmente de sustentação. Pela descrição que o Harry me fez, entendi que um deles foi de ficar boiando de costas, com as pernas para fora da água, como se estivesse sentado. Nessa posição, deveria nadar 100 metros girando só a palma das mãos. Somente com esse movimento dos punhos, deveria se deslocar. Pelas palavras do Harry, entendi o tamanho da encrenca: "Eu quase morri"!
A sequência de exercícios foi toda nesse grau de dificuldade. Exercícios de literalmente tirar o fôlego! O que não é lá animador quando você está na água...
No total foram 2 horas de treino. Terminaram o encontro numa padaria próxima, com muita conversa.
Durante o treinamento eles foram filmados. Nessa conversa, o Igor comentou os vídeos, ressaltando os erros, dando dicas não só na parte técnica, como também em como conduzir a rotina pessoal a partir de agora. O preparo engloba também uma preparação emocional e mental, onde cada etapa tem um nome. Até janeiro de 2012, eles estarão no "pré-primário". Nesse período, nadarão entre 3.800 a 4.500 m diários. A partir de janeiro, passarão ao "ensino fundamental", onde passam a treinar 7.000 m todos os dias.
Juntando esse treino + a conversa com o Igor + a conversa na véspera, com as jogadoras de voley, pude perceber que a cada dia, o Harry passa por um processo de lapidação física e mental.
De fato, não dá para ser o mesmo depois de tudo isso.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O que é disciplina afinal?


Para quem acha, como o Harry achava, que sabe o significado da palavra disciplina, vamos lá: é hora de rever alguns conceitos.
No dia 5/8, véspera do treino com o Igor em São Paulo, Harry se encontrou com duas ex-jogadoras da seleção feminina de voley. Uma delas, Ida e a outra, Ana Lúcia. As duas tiveram oportunidade de disputar vários campeonatos importantes, inclusive com a camisa da seleção brasileira.
Naquela noite, conversaram muito sobre desafios esportivos, mas especificamente sobre disciplina.
Sentados num bar paulistano, foi só o Harry pedir um chopp que o papo esquentou. Acostumadas ao programa de treinamento bem rigoroso, as duas atletas quase surtaram quando viram o nosso nadador pedir uma bebida alcoólica, na véspera de um treino.
Durante esse encontro, as atletas explicaram como foram educadas a superar limites e a viver sob forte disciplina.
Se o técnico determinava 100 exercícios abdominais, nada de parar nos 100. Sempre fazer um tanto a mais. Em situações de exigência física extrema, sempre lembravam que conseguiram um pouco a mais, apesar do cansaço. E parece que esse treinamento mental fez toda a diferença. Se fisicamente é necessário ultrapassar limites, emocionalmente, passar dos 100% é fundamental. É como se aos poucos, o atleta toma consciência de que em situações extremas, ele sabe da onde tirar energia extra.
Dessa conversa, Harry saiu mais reflexivo. Se achou que entendia o nível de disciplina que precisaria para o projeto, percebeu depois que ainda não conhecia esse conceito: "100% e +". Apesar do choque, possivelmente no dia seguinte, enquanto nadava o seu primeiro treino pessoalmente com o Igor, repassou toda a conversa. O que as jogadoras disseram à ele foi bem impactante. Apesar de falarem até que com certa doçura e boa intenção, aos olhos delas, nesse momento, o Harry jamais conseguiria completar a travessia, com esse nível de disciplina.
O processo agora ganhou um dado extra, como disse ele mesmo: "... não existe mais ou menos, e sim 100% + alguma coisa, pois este mais alguma coisa eu talvez venha a precisar e quando vier, preciso saber usar....então, quando tiver que treinar 3000 metros e de repente sentir que posso nadar mais um pouco, devo nadar mais este pouco, e assim por diante, seja com ginastica, flexões de braço, abdominais, e interminaveis séries de piscina".
E completou: "mesmo que meus treinos e minha dedicação iniciaram há dois meses de maneira mais séria, confesso que naquela sexta-feira, 5 de agosto, algo mudou na minha cabeça... na minha conduta... e a palavra disciplina entrou definitivamente na minha cabeça e no meu dia a dia. Acredito que se vierem me perguntar de novo porque estou querendo me preparar para atravessar o canal eu diria que é mesmo para aos 54 anos, colocar disciplina em minha vida. Claro que existem outras coisas que estão vindo juntas, mas esta vai ser pra sempre!"

domingo, 7 de agosto de 2011

Vida longa aos malabaristas


Atire os primeiros malabares quem nunca se viu diante de um "dia-gincana" na sua vida. Daqueles que lembram os artistas de circo, sejam os que equilibram vários pratos girando ao mesmo tempo, cuidando para que nenhum deles caia, sejam os malabaristas.
Pessoalmente me vejo assim constantemente. Parece que em alguns momentos tenho uma longa lista de tarefas de uma gincana que nunca acaba!
Conversando com o Harry nos últimos dias, até achei a minha lista fácil...
Há menos de um mês, o então secretário do Meio-ambiente de Ilhabela, Harry Finger, trocou de cadeira e agora assina como secretário de Turismo da mesma cidade. Pode parecer uma mudança tranquila uma vez que ele já transita pela área política com relativa facilidade.
Pelo jeito a coisa não é tão simples assim. A Secretaria do Meio-ambiente tem as suas demandas, mas até onde percebi, não obriga o secretário a viajar muito. O Harry pode me corrigir se eu estiver errada, mas conciliar um programa de treinamento com esse cargo parece possível.
Mas e a Secretaria de Turismo? Pois é.... em poucos dias na nova função, já deu mostras ao Harry, que a partir de agora a gincana vai ficar cada vez mais animada.
Seria cômico se não fosse sério, mas na semana passada, andando em volta da piscina, escorregou e os dois (sim, dois) telefones celulares que estavam nas suas mãos cairam na água! Na tentativa de salvar os aparelhos do inevitável mergulho, acabou caindo no chão e se ralando todo. Mas o que é um joelho ralado para quem se recupera de uma fratura no pé? Será que ele achou tanta graça na cena quanto à sua fiel técnica Camila, testemunha viva do episódio de filme pastelão?
E esse foi só o começo...
Nessa semana que passou, uma viagem já aconteceu à São Paulo. Fato que até foi favorável, já que um treino direto com o Igor aconteceu.
Mas senti do Harry, que vai ser mesmo um desfio e tanto reservar o tempo que o treinamento vai exigir dele, no meio de tantas novas funções. Conversamos um pouco sobre isso e dessa conversa pude entender que nem mesmo ele sabe como vai fazer.
Provavelmente, o fato de já estar no meio político e esportivo há algum tempo, trouxe a ele um jogo de cintura que vai ser muito aproveitado nos próximos meses!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A hora e a vez da nutricionista



Acabou-se o que era doce


Quanto mais converso com o Harry, mais vejo a variedade e qualidade dos profissionais envolvidos num projeto como esse.
Agora é hora de falar do papel da nutricionista.
Uma das orientações que o Igor passou foi a de procurar um profissional de nutrição. Sugeriu então dois nomes que já orientaram nadadores para a travessia. Uma dela é Maria Elena Stama Suzuki. Pós-graduada em nutrição, acabou assessorando alguns atletas. Entre eles, o próprio Igor de Souza, além de Wilson Fittipaldi (1000 milhas granprix), Tatiane Sakemi (olimpíadas 2008) e Irineu Francisco da Silva (escalada Everest).
Embora tivesse a opção de procurar uma nutricionista por sua conta, optou pela Maria elena, não só pela experiência na área esportiva – e em especial com a travessia do Canal da Mancha – como também pela afinidade que ela já tinha com Igor.
A garantia de um trânsito bom de informações durante todo o preparo entre os profissionais envolvidos, traz tranquilidade extra, não é?
Em abril, fizeram o primeiro contato.
Palavras do nosso personagem:
"Não está sendo fácil e já ameacei desistir umas duas vezes. Os resultados não apareciam e me senti desanimado algumas vezes. O início do treinamento estava marcado para julho, mas fui já em abril por conta de uma indesejável barriga. Quem sabe começando essa parte antes, os resultados seriam mais rápidos!"
Iniciada a dieta, o grande trabalho foi seguir rigorosamente as orientações e principalmente os cardápios. Harry recebeu uma relação de alimentos indicados, assim como os horários e intervalos de quando as refeições deveriam ser realizadas.
Não fosse isso uma tarefa difícil por si só, ainda deveria fazer um relatório diário de todos os "eventos gastronômicos" realizados no seu cotidiano e compará-los às quantidades por ela estipuladas.
Se parece complicado comer uma macarronada de 3 em 3 horas, anotar pode ser ainda pior!
A rotina de consultas se resume em duas visitas mensais. Na primeira, a ideia é fazer uma análise geral dos relatórios e na segunda, enfrentar a balança! Peso e medidas são avaliados e principalmente o que se quer é saber qual a porcentagem de massa magra e massa gorda do atleta.
O período de férias foi cruel, como ele mesmo relata:
"Quase desisti. Mas apesar de ter ficado triste porque engordei, continuei. Em meados de julho fui para uma das consultas mensais."
Veio à São Paulo pensando em desistir. Tinha sido um período de abuso explícito! A dieta não foi acompanhada, os relatórios não foram feitos... enfim, como ele mesmo contou: "enfiei o pé na jaca!"
E olha que descoberta incrível? Maria Elena, intrigada, não compreendia como depois de nadar tanto ele ainda continuava com aquela barriga! Estudou tudo que o Harry come e como come nos últimos tempos. Fazendo alguns cálculos, percebeu que há anos ele queimava massa magra e não gorda! Por muito tempo queimou o que não devia.
Mas veja só. Quando ele parecia mais desanimado, subiu na balança e... tinha emagrecido! as medidas tinham aumentado, mas o peso estava menor!
Claro que com uma notícia dessa não dá para desistir. Apesar de complicado, em 15 dias deve ter nova consulta e a meta é baixar a porcentagem de gordura, que hoje é de 22,4%.
Harry, de minha parte, prometo oferecer um prato enorme de salada da próxima vez que vier à São Paulo!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Homem ao mar!



Pois é... agora só resta encarar!
Segunda-feira, 18 de julho. Início dos treinos para a travessia.
Vale lembrar que apesar do título Homem ao mar, boa parte dos treinos serão em piscinas. A ideia é alternar com momentos no mar e em represas, mas durante a semana, provavelmente os ladrilhos da piscina serão seus fiéis companheiros.
Ainda que os tais treinos da morte não tenham começado, nosso nadador já iniciou a programação.
O começo é sempre tranquilo, pois nas planilhas ainda estão previstos treinos semelhantes aos que já faz, nadando 2000 a 2500 m por vez. A mudança foi aumentar para 3000 m nessa etapa.
Na primeira semana, foram nadados quase 17.000 m, precisamente 16.400. Para completar o Canal da Mancha, ainda faltariam 23.000 m...
A Camila enviou um filme do Harry nadando e mandou para o Igor, que viajou para um campeonato mundial, em Xangai. E viva a tecnologia! Harry, vamos ter que agradecer o nosso caríssimo Steve Jobs e sua equipe maravilhosa, porque graças ao iPhone, suas braçadas alcançaram o outro lado do mundo em segundos!
Analisando o vídeo, Igor fez algumas correções nas braçadas e detectou um abdome um tanto.... como diria.... sem ofensas, solto, fraco....
De brinde? ganhou séries semanais de exercícios abdominais! Três vezes por semana, três séries de 50!
O Igor até que foi legal, dizendo estar preocupado com a coluna, já que abdome fraco provoca lordose durante o nado. Depois, conversando com o Harry, soube que a questão da lordose não é só prejudicial para coluna e sim, para o nado também. Explico melhor: a lordose faz com que ele nade menos alinhado, fazendo o corpo aumentar o fluxo de água que passa por ele. A coluna "torta" é mais uma barreirra e portanto mais impacto.
Um "detalhe" relevante é que nessa semana, soube que o Harry estava com uma fratura no pé. Fiquei tentando imaginar como alguém com fratura encara treinar dessa forma. Mas então ele me explicou: "O pé fraturado foi por conta de um exagero realizando exercícios de ginástica funcional, onde fiz muitos saltos e força com os pés. Acabei dando mal jeito o que ocasionou uma pequena fratura. Fratura essa detectada um tempo depois, após uma ressonância magnética. O treino foi levemente adaptado para que eu não forçasse o pé machucado."
.
Para os interessados, segue o treino do dia 18/07, mais detalhado:
600m crawl
600m (50 costas/50 peito/ 50 crawl c/ mão fechada)
12 séries - 50 perna c/ 10"descanso
3 séries - 300 braço 3 x 1 c/ 45"descanso
300m (50 costas c/ 2 braços / 100 crawl)
Total nadado: 3.000

Desta forma, os treinos serão passados ao Harry, por e-mail. Estão programados treinos com o Igor junto, ora em São Paulo, ora em Ilhabela.
Pois é.... parece que agora é mesmo pra valer!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O treino da morte


Não é fácil fazer isto se tornar realidade
  

 



-Oi Miriam, tudo bem? agradeço o convite para ficar na sua casa, mas tenho que estar às 6:00 hs da manhã na represa Bilings.
-Heih??????
 
Esse diálogo não é ficção! aconteceu de fato. Não lembro exatamente em que mês foi, mas quando soubemos que o Harry vinha para São Paulo, convidamos ele para ficar em casa. E olha só qual o programa que ele tinha!
Conversando com ele, perguntei mais sobre o tipo de treinamento que vai fazer. Foi quando me lembrou da conversa acima.
Aproveitando esse momento do blog, resolveu me contar sobre os tais "treinos da morte"!
" É o seguinte: existem treinos complicados, e que alguns técnicos chamam de treino da morte, não que eu tenha feito nenhum deles ainda, mas já passei perto.
 Agora treinando para o canal vão ter alguns e o próprio Igor me disse que de agora até a travessia terão duas semanas que ele chama de treino do inferno." 
Então ele exemplificou melhor:
São 3000 metros de natação, intercalando alguns tiros (nados rápidos cronometrados) ou muitos nados medley. Não parece lá muito fácil...
Completando o depoimento dele, dá pra entender porque esses treinos foram batizados assim:
"Nestas semanas do treino do inferno, sei que vão ter treinos que ele vai me acordar  às 3 da amanhã para nadar no mar, ou em  águas geladas da represa de Itatiba ou  de campos do jordão . Até o dia da travessia terei que nadar 12 horas seguidas. Serão assim, como diria... coisas assim ... meio malucas!"
Estou começando a achar que o Harry é mais doido do que eu pensava...
Em geral, no treino da morte são muitos metros nadados. Numa semana nada-se em média, 3500 metros por dia, em outros treinos, 4.500. Harry já está prevendo que nesses dias nem vai trabalhar, porque ficará umas 4 horas na água...
Ops! Será que essa informação era confidencial?

terça-feira, 26 de julho de 2011

E quem é o técnico especialista?




Igor de Souza, o técnico



Para um feito como esse, um treino específico é imprescindível.
Por essa razão, vamos conhecer o Igor de Souza.
O Igor na verdade, é um ex nadador de maratonas aquáticas e que também já atravessou o Canal da Mancha duas vezes.
Não sei se isso acontece hoje em dia, mas nos anos 90 quando ele atravessou, quem batia recorde ganhava um relógio Rolex. Ele ganhou dois, pois atravessou uma vez da Inglaterra até a França, batendo o recorde da travessia e um ano depois, fez ida e volta, batendo o recorde de ir e voltar.
Ele passou a treinar nadadores que competem em piscina e se especializou em preparar nadadores para travessias maiores como do Canal da Mancha, Estreito de Gibraltar entre outras.
Igor é da Confederação Brasileira de Natação e diretor de maratonas aquáticas além de fazer parte da Federação Aquática Paulista (FAP). Acabaram se conhecendo quando Harry começou a nadar maratonas aquáticas. Até hoje, ele organiza os eventos junto com a FAP . Quando se conheceram, o assunto era o desejo do Igor de realizar uma competição em Ilhabela. Dessa forma, por dois anos, etapas do campeonato paulista foram realizadas lá.
Como sempre é chamado para ser o organizador da parte aquática de alguns eventos, Harry acabou acompanhando de perto seu trabalho, participando das competições que ele organizava. Dessa convivência, nasceu um profundo respeito pelo Igor.
Em 2009, Harry soube que ele também treinava nadadores para atravessar o Canal da Mancha e pela primeira vez conversaram sobre isso. "Ao longo do tempo, percebi que nadadores normais estavam treinando com ele e não somente os fora de série. Foi nessa época que vendo ele treinar um nadador que nadava conosco, que comecei a pensar na travessia como algo possível."
E que pessoa é o Igor?
Sempre muito atencioso, mas sem esconder o lado calado e sério. Por isso, foi logo dizendo: "este é um projeto muito difícil e caro. Se for para encarar, arrume dinheiro e comprometa-se a treinar 12 meses comigo, seguindo todas as minhas instruições. Serei então seu técnico e seu "guia" (pessoa que acompanha de barco, estimulando e orientando o nadador). E é fundamental que eu veja em você determinação, disciplina e comprometimento."
Ouvindo um discurso como esse, um nadador tem que estar muito certo de que é isso que realmente quer antes de assumir o compromisso.
Harry já presenciou muitas broncas dele em seus nadadores (e já tomou as dele também!) e me confidenciou que aos 54 anos, se submeter à um técnico rígido e sisudo vai ser uma nova experiência!
Obviamente, que o "treino da morte" deve ter alguma coisa ligada a tudo isso.
Mas esse é assunto para o próximo post!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ode aos técnicos


Pódio com a bandeira do clube A Hebraica


Conversando com o Harry sobre o plano de treinamento, me dei conta de que ele não chegou até aqui de uma hora para outra.
E pensei que ao longo dos seus anos de esportista e especificamente de nadador, deve ter tido o apoio de vários técnicos.
Foi então que ele me contou mais especificamente como se envolveu com a natação e quem foram os técnicos que passaram pela sua vida.
Aos 37 anos, sofrendo de bronquite e asma, um médico recomendou a natação com fins terapêuticos. Foi aí que o Harry começou a nadar na Hebraica, clube paulistano que era sócio. Nadando informalmente foi convidado pela técnica Adriana Silva, para integrar a equipe de Masters do clube.
E foi assim, que mesmo sem planejar, o nosso personagem começou a natação competitiva.
"A Adriana Silva, com certeza foi quem primeiro me orientou, ensinou e corrigiu meu nado, pois nunca havia treinado na minha vida, muito menos participado de competições." Por essa fala, notei que embora algumas coisas acontecem casualmente, alguém que conhecemos despretensiosamente pode mudar a nossa vida.
Se a Adriana Silva conseguiu fisgar o Harry para a equipe de Marters e mantê-lo nadando pela Hebraica por anos, pode-se dizer que Beth Padilha foi a primeira técnica dele em Ilhabela.
Quando se mudou para o litoral, começou a tomar gosto por nadar também no mar e a Beth Padilha, referência em natação em Ilhabela, assim como seu filho Popoto, começaram a treiná-lo.
Depois conheceu Mario Bello, lenda no litoral de São Paulo, um dos inventores da prova 14 Bis. Ele sempre trabalhou com recuperação de pessoas doentes ou com problemas físicos, no mar, usando a chamada Talassoterapia.
"Com Mario Bello, aprendi a nadar no mar, aprendi a ter respeito pelo mar e por incrível que pareça, ele me ensinou a não ter medo de abrir os olhos e olhar pro fundo do mar. É um mestre, até hoje uma referência em maratonas aquáticas. Está com 70 anos e vive em Santos. De vez em quando aparece por aqui e nadamos juntos. Mario nada até hoje e ainda temos muito a aprender com ele."
Na sequência treinou com Zize, uma professora de ed. física, que morou em Ilhabela e o treinou por um tempo.
Atualmente quem é responsável pelos seus treinos em Ilhabela é a Camila Miguez. Na verdade, sua técnica desde final de 2006. Até hoje está lá, todos os dias, determinando os treinos, faça frio, calor, sol ou chuva. Camila tem a total admiração do Harry, porque mesmo ele recebendo treinamento de outra pessoa para o projeto do Canal da Mancha, ela participa desse processo acompanhando e corrigindo cada etapa.
A parte mais tocante no depoimento do Harry, foi ele reconhecer que ela não só não se intimidou com a presença de um outro técnico, como também compreendeu a importância desse projeto em especial.
Na "ode aos técnicos", Harry fez questão de reforçar o estímulo especial que está recebendo da Camila, que liga para ele à noite, ou na manhã seguinte aos treinos mais pesados, só para saber se ele está bem.
Descobri que "treino mais pesado", é apenas um eufemismo para amenizar o que os nadadores costumam chamar de "treino da morte".
Taí, Harry. Acho que conseguimos contar um pouquinho de cada um desses profissionais que têm importância na sua vida como atleta e como pessoa e ainda que eles nem tenham consciência do que representam para você, devem entender este post como um sincero "muito obrigado".
Agora, essa história de "treino da morte".... acho que você vai ter que explicar melhor, hein?

Pódio com a bandeira de Ilhabela

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tentando entender como isso começou


Cenas da travessia 14 Bis

Justamente porque tento entender onde e como isso começou é que tenho que voltar um pouco no tempo.
Segundo Harry, a sua primeira loucura marítima foi em 2003. A prova se chama 14 Bis e compreende a travessia de Santos à Bertioga, no estado de São Paulo. São 24 km de natação que segundo dizem, podem se transformar em 30 ou 40, dependendo das marés.
Boa parte dos nadadores desistiu antes de completar a travessia. Antes de começar, conhecidos do Harry disseram à ele que, com o nível técnico que tinha, em 7 horas terminaria a prova.
Depois um tempo, os nadadores se distanciaram uns dos outros, pelas diferenças individuais de braçadas e ritmo e ele se viu um tanto sozinho. Na verdade, estava ele e seu relógio. De tempos em tempos, consultava o seu próprio tempo. E passaram as tais 7 horas sem que ele avistasse o final. Muito difícil controlar o stress com dados como este! Quanto tempo mais seria preciso para completar? Talvez nesse momento é que o grande teste acontece. Sabendo que o nadador é acompanhado todo o tempo por uma equipe de apoio, quanto desespero é necessário para simplesmente desistir? Quanta sanidade é necessária para dosar a energia ainda restante e continuar nadando?
Harry contou que num determinado momento avistou um canal, onde era o ponto de chegada. Viu gente acenando, bandeiras, muito barulho. Enfim, uma festa! Conforme foi se aproximando, percebeu mais claramente a realidade: uma marina abandonada, o tal funil da chegada nada mais era do que um grupo de poitas e as bandeiras só tremulavam porque ventava muito. E a festa de recepção? Praticamente não tinha uma alma viva!
Soube pelo barcos que estavam à sua volta, que daquele ponto até a chegada teria mais 1 km de braçadas.
Mas ele completou! Foi recebido pela tradicional equipe de bombeiros que aguarda os competidores com cobertores e caldo de galinha quente, numa tentativa de minimizar os "estragos" por uma perda tão intensa de calor corporal.
Digamos que esse seria o primeiro "porquê" do projeto Canal da Mancha. Esse relato só tem importância porque segundo Harry, com o perdão do trocadilho, foi um divisor de águas na sua auto-confiança. Finalizar a prova em 8 horas e 15 segundos e até mesmo receber um certificado, fez com que ele identificasse em si mesmo, força e determinação, que poderiam ser usadas nas mais diferentes situações que ele ainda pudesse vivenciar, ainda que fora do cenário esportivo.
O segundo "porquê" poderia ser o encontro com Percival Milani, que aos 45 anos atravessou o Canal da Mancha. Desse encontro nasceu a semente-base. Com treinamento adequado, sim é possível! E quanto mais ele ia se envolvendo com o assunto, mais pessoas normais (segundo ele) - que também fizeram a travessia - ia conhecendo. Num livro escrito pela nadadora Ana Mesquita (que também fez a travessia), leu uma frase que marcou: "pessoas que se expõe à desafios como subir o Everest ou atravessar o Canal da Mancha, não querem ser melhores nadadores, ou alpinistas e sim, melhores pessoas."
Pegando carona no pensamento de Ana Mesquita, Harry me disse que apesar de ter tido até mesmo surtos alucinógenos no final da travessia 14 Bis, depois daquela prova, se percebeu muito mais tranquilo e paciente.
Imaginar que aos 55 anos, encarando um desafio dessa grandeza, poderá despertar em outras pessoas motivação suficiente para tentar algo novo, chega a ser inspirador. A idade deixando de ser um fator limitador faz toda diferença.



Simples assim!