quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A prova 14 bis - o retorno - parte II

Saindo da água
O pódio - sem mais palavras!

Vamos retomar o post anterior com o seguinte diálogo:
-Quanto falta para o final da prova?
-Está vendo aquela rede de alta tensão?
-Sim!
-Então... quando você passar a rede vão faltar exatamente 7,5 km

"Quase morri com a resposta".... me contou o Harry. E continuou o relato:
"Voltei a nadar, mas as braçadas não entravam direito. Foi muita decepção (ainda faltava 1/3 da prova e a sensação era de que faltava muito mais, por conta do cansaço)! Estava certo de que a resposta seria: faltam 1,5 km!"
Só que a realidade não era bem essa. Tratou então de acertar as braçadas, focar na prova e recalcular o esforço. Ter consciência de que tipo de prova estava participando foi determinante naquela hora. Aos poucos, conseguiu recuperar o ritmo e perceber que estava avançando.
Nadar sem o barco de apoio escoltando fez diferença. E ele entendeu isso quando finalmente voltou a perceber um "certo movimento ao redor". Já sentindo a presença de outros nadadores por perto, o pensamento foi de ter retornado à prova, como se em algum momento ele tivesse saído! Mas o fato de ter nadado por um certo tempo sozinho, fez com que ele se sentisse perdido.
Foi nesse momento que se aproximou o barco do Agnaldo, chefe de equipe, técnico de maratonas e que também treina atletas para a travessia do Canal da Mancha (inclusive em conjunto com o Igor). Naquele momento, a presença dele foi muito importante. Aconselhou o Harry a sair do meio do canal e nadar mais próximo à margem. A cor da touca verde-limão foi importante para que tanto o Harry, quanto outro nadador fossem identificados como equipe e recebessem orientações específicas. As dicas foram fundamentais para dar um outro gás ao nosso amigo nadador. Com mais ânimo, foi acompanhando e orientado pelo técnico, por onde ele nadava.
Nessa hora, não só as determinações técnicas são importantes, mas também o apoio psicológico que esse trabalho de acompanhamento traz. "Nadar mais perto da margem e escoltado, fez com que eu tivesse a certeza de que estava nadando mais rápido", contou o Harry.
Como consequência, começou a avançar, ultrapassando outros nadadores. Logo percebeu a presença de mais barcos e isso foi o tão esperado sinal de que estava entrando na baía de Bertioga. Finalmente estava chegando!
Depois de uns 20 minutos, o barco do Agnaldo se aproximou de novo, apontando a direção da chegada.
Nas palavras do Harry: "esse momento foi delicioso, pois ao levantar a cabeça, mesmo estando longe, já pude avistar o pórtico da chegada. Dava para ver as pessoas que estavam na chegada. Se eu enxergava a chegada era porque faltava menos que 1 km para terminar. E tem um fato curioso que sempre acontece comigo: basta vislumbrar a chegada que uma força extra aparece. Costumo então, nadar com tanta garra como se fosse o início da prova!"
Naquela hora, o que o Harry mais pensava era no orgulho de estar finalizando uma prova de 24 km. A colocação parece importar muito menos do que a satisfação de completar o percurso.
Até a chegada ao pórtico, o Harry foi escoltado por outra lancha da equipe.
"Foi lindo, emocionante! Fui chegando e como já dava pé, levantei e caminhei até o pórtico. Assim que se passei por esse ponto, o cronômetro foi parado. Logo veio o comandante e colocou a medalha de participação, que é a mais valiosa. Outro oficial da base Aérea também veio cumprimentar." Explicou.
Como já é tradição, o nadador, ao completar a prova dirige-se à uma barraquinha de sopa e lá come uma canja de galinha com um pãozinho. Um tanto faminto, o Harry confessou que repetiu a dose. Para deixar a tradição ainda mais sacramentada!
Indo feliz para o banho, o Harry "se lembrou" que a barriga estava sangrando!
Parece que o machucado não foi o mais relevante da experiência desta travessia. Como me contou depois, naquele momento de exaustão e desespero, após 5 horas de prova, sozinho, o que ele mais pensou foi na travessia do Canal da Mancha. Na 14 bis, a temperatura da água era de 23 graus e a ambiente era de 30 graus. A água era limpa e transparente em vários pontos. Com certeza, na sua travessia de junho de 2012, as condições serão muito diferentes. Lá, 5 horas de natação representarão a metade do percurso. "Mesmo depois de ser impulsionado pelo Agnaldo, pensei e vislumbrei várias vezes como seria se já fosse a travessia do Canal da Mancha. Foi um momento intenso de reflexão. Nas condições que encontrei aqui já achei bastante difícil. Como vou encarar a travessia lá?"
Ouvindo o relato do Harry, imaginei quantas coisas ele tem oportunidade de pensar enquanto nada. Uma prova de mais de 6 horas, deve dar espaço para que os pensamentos voem muito longe. Talvez seja um momento mental muito criativo, mas penso que para algumas mentes, tanto tempo pensando pode ser muito perigoso!

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